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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Desolação infinita destas noites de invernia brava, com o mugir da águaescura e o mar a buzinar na costa. Todos se deitam cedo, e eu encosto a testa,a escaldar de febre, aos vidros da janela... Como ninguém me conhece! Comoeu próprio me conheço mal!... Deus! E uma cova negra, de infinito, diante demim... Só o mar brame numa tristeza que me faz chorar...Passo o dia a espancar o pressentimento de uma catástrofe e é singularcomo a desgraça me aproxima dos desgraçados. A desgraça não isola como afelicidade. Eu faço parte da legião dos que sofrem e não é por mim só que eufalo nem sinto: vejo a desgraça em tudo. É que em tudo acarvoo e só mesossega o sonho, construir outra vida imaginária. E como um espinho aespicaçar-me persiste, até que me enche, por fim, uma amargura infinita, umadesolação, que esta noite de ao pé do mar, a água escura, a ventania revolta,mais acarvoam, com o meu destino, a minha sorte, o meu futuro assimnegro...Na vida eu não tenho senão, não direi amigos, mas pessoas por quem meapaixono e inimigos. Nunca indiferentes.Porque é que eu faço de propósito coisas que fazem sofrer? Que prazerencontro nos espinhos que me dilaceram?... E o pior é que eu sou diferentedos solitários que só se ciliciavam a eles: sou diferente porque sofro e façosofrer os outros.

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