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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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falavam com os outros artistas, e em torno deles se formara uma lenda. Eramtalvez filhos de príncipes, fugidos para se poderem amar, ou criminosos, comum passado de remorsos e dor... Com eles andava sempre um grotesco clown,que nem sei bem como se chamava. Nesse tempo passavam pelo circo tantosnomes que apenas conservo no fundo da memória vestígios de cartazes, ouroe escarlate, como restos de pompa e de grandeza da minha vida de então. Eununca tive memória e de tanto sonhar tudo confundi, realidade e quimera...Todos o conheciam e sabiam que vivia no circo para fazer rir o público. Era ofaz-tudo, o sofredores: levava os pontapés a valer e os tombos que magoamdeveras. A multidão chamava-o como um cão, por assobios, e, por não tergraça nenhuma e ser desajeitado e se pôr às vezes a chorar — toda a gente seria.O circo era enorme e todas as noites a Cidade esguichava para ali amultidão, ávida de perigos alheios, e, entre leques de gás a assobiar, tenhoainda no cérebro a visão do público, de olhares fixos no prato da arena todabranca... O riso soprava por vezes como uma ventania furiosa.Pôs-se o Palhaço a amar Camélia. Lídio e Camélia e ele eram os artistas quea multidão aplaudia. Do outro clown também se riam com ferocidade: nuncaali aparecera um palhaço como ele. Torto, anguloso e, no quadrilongo da face,os olhos furados a verruma. Nunca o vi senão de seda preta e na cabeça,posto ao lado, um chapéu alto velhíssimo e rapado — um chapéu que fazia

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