25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

contacto com o mundo. Cheio de entusiasmo, talha uma vida de romance.Em breve, porém, encontra tropeços: a cada passo a alma se lhe magoa etodas as brutalidades o ferem. É que ele não viu que, ao lado da vida sonhada,é preciso viver uma outra vida dura, de todos os dias. Repugna? É necessário,porém, a gente afazer-se, esmagar toda a piedade e afeição, para não serdespedaçado. Quantos chegam a velhos a tal ponto vivem na mentira,acreditando que amaram, que souberam dedicar-se e que na vida se pode serbom? Se procurarem bem no fundo da alma, esmiuçado cada um dessessentimentos, encontra-se apenas o egoísmo descarnado e duro...K. Maurício estoirou a cabeça com um tiro de pistola, e era na verdade oque tinha a fazer de melhor. Trabalhar como? Trabalhar em quê? Ele que, aosvinte e sete anos, se sentia em imaginação capaz de tudo, mas que na verdadeera incapaz, o miserável, de um esforço que não caísse logo num desânimo dedias. A mais leve contrariedade bastava para o desalentar.Estou a vê-lo esguio e calado, com os olhos em brasa, o casaco no fio, oviolino debaixo do braço e à sua volta todos os grotescos que levava de noitepara as bandas do Sonho. Só para eles fazia vibrar até à dor o violino. E o seupoder era então extraordinário. Com o violino na mão, arrastava-os como umrebanho, para o sonho ou para o crime.Corriam os arredores da cidade, as ravinas onde o luar escorre e um braçode árvore rompe a silvar de entre as pedras. Sobre as oliveiras de tronco

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!