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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Oh como a noite é grande, imóvel, calada, misteriosa, nos sítios ermos, nasgrandes florestas podres de velhice; nos montes escalvados só pedra e luar,onde as sombras fantásticas se cosem com o fraguedo, à espera de uma almaerrante que se atreva a passar! No alto do castelo os velhos reis escutam numaprofunda angústia. Vão devorá-la as feras? Vão estrangulá-la os bandidos?Vão ultrajá-la os homens sem alma que rondam na imensa solidão do paísdespovoado?... E de repente ouvem na noite branca e quieta um grandegrito... De dor? Não, um uivo de alegria, um grito frenético de prazer, o urrodos homens bestiais no momento em que saqueiam uma cidade. Mais fundoainda, na noite de luar derretido e coalhado, o rugido das feras tresnoitadassob a magia do luar e o império da natureza. Outra vez o silêncio... E osvelhos reis debruçados sobre as ameias choram. E agora — oiçam! oiçam! —o estertor, na noite negra, das mil almas sequiosas que a esperam — o grito dodesespero, da podridão humana, dos fundos incógnitos da treva. Oiçam!Oiçam! Ouve-o o velho rei trémulo, que pede a Deus a morte, ouve-o a rainhasó dor, que pede a Deus um milagre, ouve-o a multidão, que se roja na terrachorando silenciosamente.Só Onofre, seco e feroz, clama:— Cumpriu-se a vontade de Deus!Souberam-no os desgraçados, os que viam prestes a realizar-se os sonhosde volúpia das noites solitárias, os irrealizáveis sonhos de volúpia que os

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