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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Ninguém bulia. Que quimera dolorosa, com espirros escarlates de sonho,lhes incendiava as almas, chuva de estrelas cadentes na noite negra e funda!Cada um se punha para o seu lado a sonhar e aquilo quase os aureolava, aospobres, todos eles grotescos, doentes e tímidos! Cada um se agasalhava com apúrpura daquela quimera, e puxava a si, dedos afiados e sequiosos de gozo, osrestos enlameados do seu próprio sonho. Era um bando que se sumia nonegrume e a que o negrume dava relevo e mistério — o bando de espectrosque o seguiam como sombras.A música do homem do violino corria com o luar e dizia-lhes tudo o queeles não sabiam exprimir: o mal da vida, a dor inquieta que por vezes, semcausa, lhes premia o coração, o que era a morte, a ambição e o amor. Oespectro de uma oliveira torcia-se, esvaída da dor que o violino espalhava. Eencolhidos, de olhares extáticos e arrepios de febre, punham-se a pensar: Quemal excecional é este de viver? E porque é que tanta criatura que sofre cravaas unhas desesperadas na vida, sem a querer largar?...Porquê esta ânsia de querer viver a vida dura e egoísta ou, o que é pior,aborrecida? Os dias seguem-se aos dias, o sol não aquece, os amigos têmsempre a mesma cara e a mesma afeição, que afinal irrita e desespera.Cuidado, porém, em não a experimentar, se a gente quer ter ainda ilusões naalma! Todas as manhãs se acorda com um pedaço maior de secura e estapergunta: Para quê? Para que vivo? Para que nasce o sol, a água corre e asárvores continuam a ter flores a cada primavera que chega? Parece que já se

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