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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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grande, como um pintor que na febre atirasse broxadas de génio para a tela.Pita parecia uma evocação de Poe. Pita sentia, depois da bebida, o frio dosdesgraçados, a febre dos noctâmbulos: sabia a enxurro: e tinha na fantasiatoda a púrpura e toda a lama que as borboletas têm nas asas, e que eleapanhara ao roçar-se pelas sargetas imundas da cidade:— E aqui tem o amigo... O raciocínio é um vício com o qual se chega atudo — até a ministro... Teoria vai, teoria vem — palavras leva-as o vento... Averdade amarga e única é esta: é que na vida é preciso sonhar, para não semorrer transido, tantos são os pontapés que a gente leva na alma e noutraparte. Ou então tem a gente a necessidade de se endurecer e de pôr o coraçãocomo uma pedra.— Pita!...— Como um calhau... Vá a um sítio aonde se sofra — ao hospital. Tenho-oem frente da minha mansarda, o luzeiro sempre a arder nas janelas. O que estáaquela pobre gente toda a noite a tecer?... Aquele estupor de alambique desofrimento toda a noite resfolga...— De quê!...— De alambique — disse, seco. — É uma imagem... E há coisas que senão curam, que é o que me revolta... Deixe-os sonhar... O sonho é tãonecessário prá vida como o pão.

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