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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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— Porque não experimentas tu as mulheres que se vendem?— Aborreço-as...— Compreendeste-as mal, eis tudo... Essas criaturas que tu desprezas sãoum pouco como tu e como eu: batidas pela vida, escarnecidas e com umaalma onde a candura se esconde para não sofrer... Olha-as: passam na rualindas, fáceis, com sorrisos humildes, a oferecerem a sua nudez às pancadas eaos beijos... Sob o véu de cada criaturinha esvoaçam dois olhos negros, quenos prometem beijos que, por meia hora, fazem esquecer amarguras equimeras. Que importa que sejas velho, feio e grotesco? Encontras, por unsmiseráveis cobres, carícias que se não pagam, abandonos, olhares que valemum mundo. Por momentos farão a primavera na sargeta negra da tua alma.São elas — escuta — que dão aos mendigos, aos tímidos e aos grotescosescorraçados pela vida e pelas vaias da ralé a ilusão do amor!... Compreendesbem isto? Como tu, como eu, vivem sob o desprezo público, cuspidas pelosricos, e no entanto sofrem, são curiosas e dignas da piedade humana...Precisas de bater em alguém? Aí as tens lindas, fáceis, sem a proteção da lei e àmercê das tuas perversões. Como todos os escorraçados, são humildes e osbeijos das suas bocas têm o sabor da experiência. O amor à venda! O gozosem responsabilidade! As horas tecidas a ouro, quimera de asas abertas — semreverso de medalha, sem amargura e remorso! E queixas-te, estúpido!

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