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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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uma fonte... Andei, era a hora: lá no alto, ao pé da cruz, a esperei — pois quenão tardaria que ela viesse, eu bem o sabia.Por baixo de mim a pedra, a terra húmida, estremeciam: todos os detritos, ovelho pó que havia sido outrora flor, a cinza que fora cérebro, a terra que selembrava de ter batido em coração — se tinham posto a falar, a agitar-secomo milhões de pequeninas almas, e toda a montanha tinha vida, gritava sobo luar a escorrer, prendendo-se em fios nas árvores, desembainhando punhaisnas moitas...És tu que vens? És tu? Uma grande serenidade caíra sobre o meu coração,que nunca pulsara tão rítmico, tão forte, tão alto... Olhei-te: estavas atrás demim, de mãos estendidas, e na tua boca, em todo o luar de que és feita, haviaum sorriso extático...Há que tempos, há que tempos eu o esperava! Todo o meu desespero eraremorso, todos os meus gritos, todas as minhas palavras vãs, não exprimiamsenão a pena de não te ter sabido amar, senão a certeza de que nunca meperdoarias — de que eras feita de luar e eu de lama negra.Desci até à matéria, muitas vezes fui atrás de seres grosseiros que meatraíam. Muitas vezes me enlameei — mas só tu, que não existias, foste o meuverdadeiro, o meu único amor. Trouxe-te sempre escondida como numsacrário e as melhores horas do meu dia reservei-as sempre para pensar em ti,

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