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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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aqueciam nas noites infindáveis. Souberam-no as feras que vão violar as ferase às quais só o cansaço e a dor deixam prostradas. Souberam-no os dementes,que viam diante de si a luxúria e a morte, e diziam-no em segredos que asbocas pegajosas e imundas só contam a medo à lua branca como um cadáver.Ela entrava nos covis e os seus beijos tinham uma frescura de que ficavamanos com a impressão e a saudade. Entrava nas cidades dos leprosos, nascidades abandonadas onde as figuras se escoam como fantasmas; nos bairrossem nome das grandes capitais desordenadas que recebem o lixo humano epropagam em conúbios monstruosos o lixo humano; nas cavernas profundasonde o sol se recusa a penetrar e só um fio gelado de luar desvenda o remexerdas larvas. Por toda a parte ela aparecia branca e sem um queixume, dando aboca como uma fonte de água pura aos ladrões e aos carrascos.E mais extraordinária era ainda por não compreender — branca, inocente elímpida entre os chascos, sem compreender a lascívia, os desejos, o sonho devolúpia das almas tenebrosas. Foi de todos. A filha de reis, criada mimosanum berço de ouro, fez-se trapo, pior que trapo, obedecendo à voz que atornava mais rasa que a lama, e saindo pura de todas as impurezas. A matérianão importa — se o espírito está com Deus. Que digo! À matéria é precisodegradá-la.Foi dos mendigos e dos leprosos. Esperavam-na cosidos com a noite paracaírem sobre ela sem palavra, beijando-lhe os cabelos de ouro. Andou com osladrões nas estradas e nas mãos de meretrizes. Desceu aos antros. Vinham as

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