desgraça! — ter vivido, tudo vivi. Eis a razão de ao lado da minha amargura,do feitio azedo, de perseguido, que há em mim, uma outra porção da minhaalma estar cheia de ilusões, de candura e de lágrimas: é que tem sido porimaginação e não na realidade que vivi.Tenho medo de morrer. Porquê? Pelo desconhecido: e muito mais meaterra outra vida, consciente, do que o repouso, ser couve, árvore, macieira domeu quintal. Tivesse eu a certeza de que a morte era apenas a transformação enada de pior, e, morto, me plantassem uma árvore, um simples espinheiro nacova, e toca a ser seiva, a ser flor, a apanhar sol, sem sofrer e sem coração esem pensar. O que me aterra é encontrar-me depois com não sei quê deespantoso, de cova... — O que me aterra e o que me atrai.Serei eu incompleto? Sou apenas um duro egoísta, sem alma, capaz de meenternecer mas incapaz de uma grande dor? De tudo sentir, mas não de sofrermuito?Homens de génio há que morrem-lhes os filhos e ficam secos, morrem-lhesas mães e ficam secos, e porque um certo dia, numa certa hora, pisaram umbicho, é como se lhes tivessem calcado o coração!... Assim, conheci umhomem que fugia de casa a chorar todas as vezes que o hortelão podava asfruteiras do quintal, e deixava a mãe morrer à fome! E estes homens sabemdescrever a dor como ninguém, contam-na, por imaginação, nos seus livros,tão sofrida que nos fazem chorar.
Um pobre homem que sofra muito, e que nos conte a dor, é muito menoscapaz de nos transmitir essa sensação do que um homem de génio. Porqueum sofreu apenas, sofreu como uma árvore que se corta, sentiu a dor: não acomentou, não a explicou, não a transmitiu ao cérebro, não a armazenou:sofreu como um simples, e, se a quiser contar, tem duas ou três palavrasapenas: falta-lhe a imaginação da dor. Algumas vezes essas duas ou trêspalavras valem por todas as páginas do outro; mas valem só para quem tenhaimaginação para as receber, para as sentir e para com elas criar...Não! A grande dor, tão humana, talhada de uma só peça, que aniquila eparte o coração e o crânio, não a sentem; perde-se, desfeita em múltiplassensações, que vão despertar ideias. Por isso mesmo também os nervos se lhestorcem e vibram com a água que corre, com tons violáceos de montes, oucom a saudade, com a alma de uma árvore, pois que eles até sentem as coisasagressivas ou de braços abertos...Enriquecem o seu cérebro, a sua personalidade, e o seu génio é cada vezmaior. Egoístas duros, tiram dos outros o que lhes pode aproveitar, dosamigos o que lhes pode servir para a sua alma: incapazes de sofrerem, de sededicarem, de viverem a não ser para eles próprios.Quanto mais desenvolvem a sua personalidade, feliz e rica, menos aptospara sofrerem a grande dor e mais prontos em sentirem piedade por tudo,pelos bichos, pela paisagem, por uma árvore que se esgalhe num fundo
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PREÂMBULOA cada passo se formam po
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Outro momento e tudo isto desaparec
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Aos que se alimentam de sonho chega
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esgoto de lama amassada em lágrima
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feitio de encolhido, gestos desajei
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Mas ponho-me a pensar: Que importa
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contacto com o mundo. Cheio de entu
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Ninguém bulia. Que quimera doloros
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Morrer é não sentir, não ver, n
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CAPÍTULO IA CASA DE HÓSPEDESSingu
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Vocês todos têm pensado na vida d
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— Desaforado... Cite factos, ench
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grande, como um pintor que na febre
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E ele, descendo as escadas, com jú
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Tomado de respeito por tanto saber,
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E assim as casas, as paredes e as c
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CAPÍTULO IIHALWAINUm grito, um gri
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mesquinho, impotente, tenho a certe
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CAPÍTULO IIICAMÉLIARompeu a sinfo
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de cetim escarlate ou verde, calvos
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matilhas esperá-la à beira dos ca