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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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A seguir Lídio trabalhou. A toda a altura do circo, enorme, e sem rede, faziatrabalhos de prodígio e de perigo, com a sombra de um sorriso nos lábios,enquanto o circo hipnotizado sentia a impressão da queda num abismo.Para tirar àquela parte do espetáculo o aflitivo de pesadelo, o empresário,como quem atira para uma cova negra um galho de macieira em flor, faziacoro aos trabalhos de Lídio com um bailado em que entravam as mulheresmais lindas do circo. E catadupas de luz jorravam do palco... Mão-cheia deflores atiradas para a arena, com risos claros, vinham de roda, de súbitoestacadas para Lídio. Ao meio o Palhaço tinha ímpetos de paixão, na indecisãoda escolha, e elas dançavam desfeitas em papelinhos multicores levados pelovento... Lídio no trapézio equilibrava-se num perigo enorme!...Quem cortou a corda do trapézio?O Palhaço não o disse, mas é certo que havia tempo que os seus olharesluziam de ódio para Lídio e que a sua conversa sacudida, nervosa e tecida derancor, se estancara. Na arena havia noites em que a dor se misturavademasiado às suas farsas e em que a multidão o pateava raivosa. Os seusgestos, em linhas quebradas, exprimiam ferocidade e em toda a face, compridae amarela, se lia (o que transformava de súbito os risos em pasmo e agargalhada em terror) não sei o quê de sinistro...Reparem na grande farsa que ele agora representa para Camélia e para todoo circo, que não sabe se há de rir ou pateá-lo — a sua última farsa — amar ou

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