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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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em mim. E é por um raciocínio idêntico que dou esmola. Egoísmo —egoísmo e vaidade.Encontro a dor no fim de tudo. Não vou para um prazer sem pensar nofim, na desgraça que em tudo se aninha, no tédio de ter realizado... E naminha alma se faz a pouco e pouco um grande vácuo, um amargo tédio por avida ser só isto, por o sol brilhar só de uma forma, e por já ter imaginadotodas as coisas... E no entanto eu não vivi senão por imaginação.Sou apenas um duro egoísta, sem alma, capaz de me enternecer, de umagrande sensibilidade, mas não de uma grande dor? De tudo sentir, mas não desofrer muito?Eu que me comovo com uma palavra sentida, serei tão incompleto e tãogrande egoísta, que não seja capaz de sofrer? Homens de génio há quemorrem-lhes os filhos e ficam secos, e porque um certo dia, numa certa hora,pisaram um bicho, é como se lhes tivessem calcado o coração! Assim conhecieu alguém, que fugia de casa a chorar de todas as vezes que lhe podavam asfruteiras do quintal e que deixava a mãe a morrer à fome!Esta piedade que eu sinto por tudo o que na vida magoa, não é umegoísmo? Não é antes piedade por mim próprio e um dilacerar da minhaprópria alma?... A minha desgraça cavo-a eu e com que fúria! Pormenores quepara os outros passam despercebidos, miúdos casos da existência que paranada importam, com que furor, ainda que se rompam fibras, eu não os cavo

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