25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A casa tinha uma varanda de pedra e era lá que te encontrava sempre, como teu sorriso triste e o olhar doce e resignado. É certo, amei-te, comoporventura tenho amado todas as criaturas que encontro na vida, tristes,humildes e cansadas... O amor em mim é tecido de piedade. Nunca asmulheres triunfais me fizeram bater o coração como as pobres criaturasmelancólicas, feias, arredadas, cujos sorrisos têm mágoas e cujos olhares sãovelados pelas lágrimas... Tenho vontade de as consolar e de as beijar. Será porhumildade? Será por egoísmo, porque me sinto, eu próprio, assim encolhido edoente, incapaz de beijar com sofreguidão lábios rubros de vida e de saúde,lábios jovens? Ou porque o amor que sabe a lágrimas me tenta?...Espera... Não és apenas uma mera criação de sonho... Quando escrevo,sozinho, fechado, acontece amiúde estar com medo de voltar a cabeça paratrás: tenho a certeza absoluta de que está alguém comigo, a olhar para mim...Hoje beijaste-me.Nesta hora aflitiva do crepúsculo, quantas criaturas, transidas pela vida, sepõem a tecer quimeras, sonhos fugidios, nuvens!... Da terra começa a sair ohálito violeta da sua evaporação: nas almas se criam ténues figuras de sonho,de ilusões queridas. Tenho vontade de chorar e ainda hoje me não aconteceudesgraça... Alguns criam espectros negros e desesperados, a outros vem Hélia,de mãos febris estendidas, beijá-los na boca. Dir-me-ás com o teu sorriso demágoa: — Sonho, é sonho tudo!... — Como se eu não tivesse a certeza de te

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!