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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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viveres — e a realidade obriga-te a caminhar até ao fim. Palhaço! Palhaço!...Talvez todos os homens, num dado momento da vida, perguntem a sipróprios, numa angústia:— Errei a vida? O meu amor foi o verdadeiro amor? O sonho que sonhei omelhor sonho? Felizes os palhaços que são palhaços até à última hora com amesma convicção — e que não sentem este desespero e este fel. Palhaço!Palhaço! A tua vida foi um sonho — agora sonha! Quem se habituou asonhar, tem de sonhar sempre, de se fechar por dentro com o seu sonho, parafugir à realidade. Agora só te resta fazer do amor sonho e da morte um sonhomaior e mais belo.No covil do quarto vivia desesperado. À noite no circo, parecia desvairadoe a multidão dera em o aplaudir nas suas farsas, em escancarar a boca de riso.Nunca outro palhaço fora grotesco como ele na comédia do amor, que todasas noites representava, juntando-lhe de cada vez mais um pormenor, semprevelha, sempre viva e cheia de interesse... Quando Camélia aparecia sobre ocorcel negro, linda e frágil, leve na gaze glauca como se fosse desaparecer,avançava todo torcido, a babujar-lhe tímidas palavras, dizendo-lhe a suapaixão de uma forma tão pícara que o riso caía como uma montanha quedesaba. Até Camélia ria — e fugia num turbilhão, levada pelo cavalo negro agalope, enquanto o bobo caía despedaçado pela dor, com desesperos tão bemfingidos e lágrimas tão cómicas que a multidão aplaudia com delírio. Às vezesas suas palavras eram dolorosas, as suas frases afligiam, mas ela ria também e

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