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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Vocês todos têm pensado na vida destas criaturas? Desde a juventude quenão tiveram risos. Depois o pequeno emprego, nunca o gozo satisfeito, aimaginação e o apetite sempre alerta. As mulheres! Ainda um dia hei de teraquela mulher, quando tiver dinheiro!... Nunca satisfizeram o seu amor e o seudesejo. Aturaram as insolências dos patrões e o desprezo do Metal. Nuncativeram na vida ocasião para praticar um crime que lhes desse o ouro ou opoder. Correram casas de hóspedes a ruminar ideias de ambição ou de ódio, eessas mesmas diluídas e derrancadas... São sórdidos, têm pequenas manias einéditos recantos de alma, e nunca, como os pobres cavadores, viveram ocontacto da natureza, das grandes árvores, da água e da luz.Acontecia que à mesa, depois do jantar, na obscuridade que o Pita amava,ficavam de conversa. A princípio o Palhaço não falava... Quase sempre fugiapara o quarto. Mas de uma vez, que se falara de amor, escutara e discutira —daí ficaram com o hábito de se exasperarem com conversas, que o Pita tingiade sonho...O Pita era um homem de barba hirsuta e olhar vivo nas órbitas fundas esem pálpebras. Unhas, roera-as todas. Tinha a ciência da vida, visto queandara sempre aos pontapés de toda a gente e se dava com a ralé. Vivia à custade mulheres, e como de uma vez lhe perguntassem como arranjava ele, donode semelhante caveira, que as mulheres o amassem, disse com desprezo:— A mulher é uma esfinge.

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