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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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parecer imensa floresta apodrecida onde os homens são monstros. Desceu tãobaixo que chegou a ter o verdadeiro sentimento da vida, o da grande florestaputrefacta onde vagueiam seres de sonho e formas de dor mutilada, mãosgeladas que tateiam no escuro, formas cegas e formas hesitantes de pesadelo.Sentiu os contactos viscosos dos homens em esboço, só ventres obscenos, sóinfâmia, só grotesco e desespero...Oh, que figura pálida e branca, na cabeça o sol enrodilhado e um fio deouro a escorrer-lhe pelos ombros abaixo! Que figura para ser apanhada elevada para as cavernas, entre risos bestiais, cevando-se nela todas asbrutalidades do instinto! Que ser inerte e delicado, sem resistência, para seapertar entre as garras, ouvindo-se bater-lhe o coração como o de um pássaroque se afoga — e sentindo-o morrer devagar!...E desceu sempre, desceu mais, desceu tão fundo que acabou por serimaterial.O castelo ainda lá está em cima como um altivo ninho de águias. Os velhosreis morreram. Abateram os tetos, e nos corredores, abobadados, nos grandespátios desertos onde a erva inútil cresce, clama, ainda e sempre, aquela vozfrenética que se apoderou das ruínas:— Cumpriu-se a vontade de Deus! Cumpriu-se a vontade de Deus!

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