25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Onofre! Onofre! — gritava, batendo as mãozinhas. E para dentro dacaverna fazia:— U! u! u!...Logo se sentia um rugir de folhas e de entre a esteira de esparto, a vasilhade água e alguns ossos esburgados, emergia, rosnando com ferocidade, acabeça hirsuta de um bicho, metade pedra, metade sapo, com a boca maiorque o antro escuro, e que ao vê-la ficava logo dominado, transformando-setodo num riso sem dentes.— Vamos ver os bichos!...E lá o levava pela mão, ralhando quando ele estorcegava nos gadanhos osninhos e as aves, até à lagoa, onde as feras que o santo subjugara,aproximando-se-lhe de rastos até aos pés, vinham beber ao fim da tarde.Como aprendeu o sofrimento e a miséria da vida? Não sabia nada da dor esó cismava na dor! Debruçada sobre as muralhas, parecia interrogar a mudez.Toda a noite ficava encostada às ameias, embebida num grande sonho de quesó acordava quando ouvia uma voz a chamá-la. Não eram os corvos, nemuma grande águia que todas as noites recolhia ao ninho no alto do castelo.Não era o murmúrio das águas que ali chegava como um eco. Era uma vozinterior que a sacudia toda e a tornava mais bela. Para que Deus perdoasse aomundo, devia ser calcada como as ervas rasteiras. Ser nada nas mãos de Deus— para que Deus a ouvisse.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!