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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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inéditos de alma, se dissesse toda a amargura reles, mas que faz sofrer e quedespedaça muito mais do que as grandes desgraças, que na sua grandeza têmquase uma compensação, e que não deixam para toda a vida os vestígiossaburrentos destas misérias irritantes. Esse esguicho de lama daria talvez asensação de riso e de arrepio de um clown enforcado num ramo de azinheira,em sítio ermo e bravio...Com que extraordinária sinceridade me ponho, numa fúria, a descobrir, nosoutros, vícios e defeitos que eu mesmo tenho e a odiá-los por isso!... Tenho acerteza de que é invejoso! — digo-me. Mas porque é que me encarniço aprocurar nos que amo más qualidades? Sou sincero quando, sem raciocinar,imediatamente, ao encontrar nos outros um defeito ou um vício, os rebaixoaos meus próprios olhos, para me demonstrar que são indignos de ser meusamigos?... Não, não é por isto: eu é que sou invejoso e, por inveja, é que oshumilho com fúria na minha própria alma...Egoísmo absoluto, secura de alma que me desespera. Nem uma ideia a queme agarre, nem ao menos sentir, ter uma dor de alma tão forte que me façaesquecer... Esquecer! Felicidade de ser árvore!...Como é pequena a Dor que eu, imaginativo, engrandecera! Ó quimera davida! Pois a vida é isto? Estes apertos de mão, esta mentira, este monólogoentrecortado de risos, de lágrimas e de infâmias? Este sonho e esta lama? Estainveja e esta vaidade? Isto é que é a vida? Ou eu sou diferente?...

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