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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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quando caíram aniquilados sobre a sela... A música ia então a passo, vagarosa,e um vento fresco entrou no circo, trazendo da caixa o cheiro a cavalariça, asuor e a pele orvalhada de mulher...A esse tempo o Palhaço, tendo acabado de riscar a boca de vermelhão e deempoar toda a calva, luzidia como uma bola de bilhar, espreitou de cima, docorrimão. O circo visto do alto, batido da claridade, parecia mover-se,rodopiar, afundar-se, com a maré de cabeças a ferver e o galope do cavalo,que recomeçara com a música.Odília, postos os arames no momento de descanso, apareceu, branca sob aluz dos refletores, vestida de cetim branco, e até os cabelos, que usavaempoados, pareciam cortados numa pétala de flor. Somente, a fazer destaqueem todo esse poema branco, o guarda-sol, que lhe servia de maromba, erainteiramente negro, com grandes flores púrpuras. A fanfarra tocava não seique música, fugidia e extática por vezes. E os refletores brancos batiam-na,diluindo-a em branco, enxurrando branco e leite sobre aquela figurinha pálidacomo as mortas. Avançou no arame, a passos curtos e leves de ave, movendosobre a cabeça a nódoa nanquim do pára-sol, onde flores esvoaçavam numenxame.Apenas Odília terminou, uma avalanche de palhaços veio entre risadas,gritos estrídulos e berros, até ao meio da arena — bando de caricaturas loucasno frenesi dos gestos, nos esgares das bocas: uns de cetim todo negro, outros

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