CAPÍTULO IIICAMÉLIARompeu a sinfonia, numa música estranha, com notas que pareciam sedasrasgadas, uivos dolorosos, e esgares de alegria transformados em gritos... Amultidão, em volta da arena enfarinhada, tinha enlouquecido — mar decabeças a ferver; — e o gás assobiava em leques e borboletas de fogo, napúrpura do circo, onde as colunatas brancas e finas subiam, sustentando pormilagre a abóbada do teto.Logo ao primeiro compasso as mulheres, vestidas de escarlate, loiras efardées, tomaram um e outro lado da rampa, e dois criados, de casaca e laçobranco, pentearam a arena.Um sussurro... Arabela e Siwit, leves, de um único salto gracioso, vestidosde gaze clara e transparente, com flores a sangrar, saltaram sobre o cavalotodo negro, escumante, aos corcovões de fúria: logo ela, de um pulo, apareceude pé sobre a sela, na gracilidade e no triunfo da sua beleza fina e graciosa.Arrancou o cavalo na carreira em volta da arena, a cabeça em onda, o focinhonegro quase a tocar-lhe as pernas, babado e raivoso. Apanhou-o Siwit eenlaçou Arabela, erguendo-a, segurando-a nos braços, sem o mínimo esforço,como quem ergue uma pluma. A música, em golfadas luminosas, subia para seapagar como uma fonte que se estanca. As palmas, marteladas, estrugiram
quando caíram aniquilados sobre a sela... A música ia então a passo, vagarosa,e um vento fresco entrou no circo, trazendo da caixa o cheiro a cavalariça, asuor e a pele orvalhada de mulher...A esse tempo o Palhaço, tendo acabado de riscar a boca de vermelhão e deempoar toda a calva, luzidia como uma bola de bilhar, espreitou de cima, docorrimão. O circo visto do alto, batido da claridade, parecia mover-se,rodopiar, afundar-se, com a maré de cabeças a ferver e o galope do cavalo,que recomeçara com a música.Odília, postos os arames no momento de descanso, apareceu, branca sob aluz dos refletores, vestida de cetim branco, e até os cabelos, que usavaempoados, pareciam cortados numa pétala de flor. Somente, a fazer destaqueem todo esse poema branco, o guarda-sol, que lhe servia de maromba, erainteiramente negro, com grandes flores púrpuras. A fanfarra tocava não seique música, fugidia e extática por vezes. E os refletores brancos batiam-na,diluindo-a em branco, enxurrando branco e leite sobre aquela figurinha pálidacomo as mortas. Avançou no arame, a passos curtos e leves de ave, movendosobre a cabeça a nódoa nanquim do pára-sol, onde flores esvoaçavam numenxame.Apenas Odília terminou, uma avalanche de palhaços veio entre risadas,gritos estrídulos e berros, até ao meio da arena — bando de caricaturas loucasno frenesi dos gestos, nos esgares das bocas: uns de cetim todo negro, outros
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O MISTÉRIO DA ÁRVOREEsgalhada e s
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