25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

árvores com grandes cabelos verdes soltos, um caminho que eu tantas vezesandei, de coração inquieto...Vivíamos juntos e amávamo-nos, nesse sítio arredado e melancólico, comgrandes árvores, uma antiga casa fidalga, e a vida livre, primaveras a noivarem,paz, invernos bravios sonhando ao pé do lume, e livros de poetas. Tempolindo, saímos ambos: às vezes em Maio, no ar fino e doirado, as árvoresdeitam a primeira flor como um cândido sorriso ou um coração que pelaprimeira vez estremece. Levava um livro comigo e Hélia escutava. As minhaspalavras animavam a paisagem: davam alma às coisas, às árvores, às águas daslagoas. Toda a minha alma se desprendia ao pé dela e a emoção espalhava-sepelas coisas. Aquecia. Ao ver grandes árvores, chorava: as árvores davam- mea impressão de me achar entre amigos a quem tudo se confia: sentia-me bom.Contava-lhes o que as pedras sofrem, o que as coisas sofrem. Líamos ouolhávamos as montanhas. Descobriam-se carreirinhos entre os pinheirosbravos: lenhadores rachavam árvores; um bom homem montado no seu burropartia; uma nuvem lilás errava quase a desfazer-se no céu. Para onde? Paraonde? Onde iam dar todos os misteriosos carreiros da floresta? Comoquereríamos ser a nuvem, partir, seguir todos os caminhos por entre ospinheiros, ser lenhadores, o saloio que lá vai no trote alegre do burro e quealguém num lar espera, as próprias árvores, a luz, a água que corre, a chuva, osol; desfazermo-nos nas coisas, ser, com a mesma alma, a alma das montanhase das ervas humildes...

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!