25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Todo o vasto circo cheio de ruído era extraordinário de colorido. Aatmosfera aquecera. A música hílare em torrentes de sons acompanhava ostrabalhos de agilidade e fantasia, que o público acentuava com palmas, comgritos, com ahs! de satisfação, com silêncios de espanto, com assobios deprotesto. As mulheres, recortadas na luz artificial, pareciam mais belas, osmovimentos perfeitos. Ah!, exclamava a multidão, que dali levava umresquício de claridade, alguma alegria e um pouco de ritmo e de sonho, paraesquecer o negrume da vida.Na claridade violenta do circo, Camélia apareceu enfim sobre o cavalonegro, toda branca, e passou rápida, esbelta e loura, a sangrar na luz púrpura,rósea e evocada num sonho, imagem que se desdobrava, na fúria do galope eno triunfo da música, como uma figura de quimera, conforme os jatos dosrefletores. As cores, restos de poente, escamas de sol, escorriam sobre ocavalo negro, até que, entre a rajada de palmas, caiu no selim, com uma graçade cisne, toda branca outra vez...O Palhaço, numa cabriola, veio então rojar-se-lhe aos pés, amoroso ecómico... Todo de seda negra, ferida de escarlate, junto à gracilidade de nuvemde Camélia — céu de catástrofe onde o luar aparecesse — dava a impressãode um salteador que tentasse violar uma virgem. Era certo que os seus olhos,na face longa e amarela, tinham desespero, amargura, falavam de ilusõesdespedaçadas, mas os seus braços desengonçados, todo o corpo anguloso e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!