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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Em qualquer recanto, num café, entre quatro paredes que não importam,porque, por mais denegridas que sejam, a nossa alma tem o poderextraordinário de tudo transformar, falamos ao mesmo tempo e com omesmo entusiasmo, repartindo sonho às mãos-cheias. É então visível e quasetangível a auréola que se forma sobre as cabeças de vinte anos.O que em nós vai secando pela vida fora está tão sensível que magoa tocarlhe.Todos somos poetas, todos vivemos num estonteamento que se parececom o amor. Todos os dias são de primavera. Ainda que o casaco esteja nofio, a gente não sabe que mudaram as estações, e a existência, mesmo numamansarda, é uma festa perpétua.À noite cada um estatela o seu sonho diante dos outros, e aquilo é umbraseiro imenso ao qual todos se aquecem. Essas horas tão curtas sãoextraordinárias, porque o mundo pertence-nos e as asas da quimera, que nosprotege e não sai do nosso lado, tocam o céu e a terra. De dia o grupocaminha às vezes pela rua fora, falando tão alto que toda a gente se volta:impregna-o uma atmosfera de juventude e de beleza de tal forma magnéticaque as raparigas — em que eles nem sequer reparam porque discutemmetafísica — sentem arfar-lhes o seio redondo que se forma, e seguempensativas.

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