25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

existes ou não passas de uma imagem que na minha imaginação criei? Se tebeijo penso por vezes que estás morta. Fala, fala mais, embora as tuas palavrassejam vãs, para que eu me convença de que ainda existes... E de ano para ano,nesse país onde o Deus dominava, as almas se purificavam, pois que ninguémao certo saberia dizer se o seu noivado se continuaria no infinito. O amortransformara-se. Já se falava baixinho, e os olhos arrasavam-se de lágrimas: oamor, pouco a pouco, se mudara em sentimento religioso. De forma que,quando o Poeta de cabelos flavos veio para casar com a Princesa e reuniu emvolta de si os noivos desse ano, nenhum estranhou as suas palavras. As suaspalavras são talvez incompreensíveis e metafísicas para ti que me lês, mas nãoo foram para os noivos do país quimérico, onde o Deus feroz existia. Disse oPoeta que o amor era imortal — e só no infinito se sublimava. As criaturasque morriam sacrificando-se pelos outros iam ter o seu noivado eterno para ládas estrelas, onde as quimeras tomam corpo e todas as aspirações se realizam.Disse tudo o que só a intuição dos poetas adivinha e os sábios ignoram. E,pois que a primavera chegava, todos aceitaram as suas palavras, e todos sesubmeteram à morte. Cada um desejou no infinito o amor infinito e cada parde noivos procurou com ansiedade nas árvores a primeira floração — e àsestrelas cada noite se prendiam novas aspirações. Ficavam horas de mãosdadas, a olhar o céu, sorrindo...— E lá como seremos nós então?...— Como a pureza, como a brancura...

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!