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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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assistiu a tudo, depois de a gente ter visto como todas as coisas sãoincompletas e diferentes do ideal que talhamos. Se tudo se sonhou, como nãoachar tudo pequeno e não ter em frente das sensações de perigo ou de prazerou — era só isto? — de espanto, que sobre cada uma repetimos — únicaspalavras que o tédio sabe dizer, depois da imaginação ter falado. A mesmacoisa sempre, as mesmas caras, as mesmas emoções, as mesmas ideiasremoídas, e também a mesma raivosa aspiração de ideal, a luta entre a lama e aalma, a sofreguidão inapaziguada de sonhar.A vida é boa quando de todo se perdeu e se tem pena de não se ter vivido,como a água de um rio, depois de haver chegado ao mar, chora por nãoapanhar mais sol e banhar mais raízes de árvores. Custa a perdê-la, porque setem sempre a esperança de se encontrar um lugar, um momento, em que seconstrua a quimera; custa a perdê-la, pelo que está fora dela — o Sonho.Como um tronco que arde e se extingue, tem-se pena de não se deitar maislabareda e de se não ser ainda brasido; por tudo o que se não realizou, portudo o que se deixou fugir. Quando se morre, o que se debate ainda dentro denós com fúria — é a quimera. O que me custa a deixar não é o corpo, é a almainquieta. Com a morte agarrada a mim, porque é que cravo as unhas na vida,raivosamente? Porque quero sonhar, tirar das coisas, das árvores, da luz, dasflores, materiais para ilusões. Ao que cada um se prende é às suas aspirações,às suas penas e não à matéria e ao corpo!...

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