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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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palhaço que arrancas gargalhadas à multidão, mesmo quando sofres... Se tuvisses como a tua dor é pícara!...E o diálogo persistia entre ele e a dor, ficando sempre vencido, esmagado:— És um desgraçado; és um desgraçado! Nunca amaste, não sabes nada deamor e atreves-te! Que lhe vais tu dizer? Com que palavras lhe vais contar oque sofres e o que crias na imaginação em brasa?... Olha bem para dentro deti!... Vê que na tua alma, por mais que procures, nada encontras de belo, degrande, que lhe possas oferecer em troca da sua boca... Ideias, sentimentosmesquinhos, palavras que já nem sabes donde nascidas. Tu não tens pena deti?... Grotesco, velho, servido — ninguém pode ao ver-te deixar de rir,enquanto para ela só encontraste ainda esta frase que a defina: — umaaparição!... Passaste a vida a sonhar abraçado a uma quimera que queimaste, eagora, quando a queres agarrar e deter, encontras apenas os teus braçosdescarnados. Nada. Fazes piedade!Quiseste fazer rir e agora fazes rir. Viveste de sonho, tentas voltar àrealidade — e a realidade atira-te para o sonho. Se abres a boca para falar deamor, todos desatam a rir. A realidade vinga-se. A realidade não cria palhaçoscomo tu, a realidade cria homens, e os que se esquecem de viver não devemacusar a vida. Tens de ser palhaço até à morte. É inútil quereres voltar paratrás, e por cada grito de dor que soltes conta com uma risada de escárnio.Fizeste da vida artifício, para representares as tuas farsas, e agora teimas emrecomeçá-la?... Palhaço! Palhaço!... Davas tudo para não sonhares — para

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