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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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ir encontrar no infinito, pois que nada se perde senão a vã realidade! Tenhomuitas vezes, até irem altas as estrelas, cismado em ti, amor; criei-te delágrimas, de aspiração, de tudo o que em mim próprio é imortal; e agora és tumesma que, aqui ao meu lado, me contas a alma desta história.Sonhar! Mas eu já não posso sonhar só isto. Preciso de sonhar mais — deum sonho sem limites que me satisfaça.Dias há em que me deito na cama e não tenho mais vontade de melevantar. Olho em roda. Toda a vida me parece aborrecida e vazia. A minhafalta de energia exaspera- me. Estou gasto e com rugas aos trinta anos. Estoucansado e esgotado, sem imaginação e sem nervos. Aflige-me não ter sidojovem, não ter vivido como os mais, e insulto a minha quimera que meparecia de ouro, por quem me esgotei, para afinal a encontrar gelada efugidia... Errei o caminho: não era por aqui.Voltar à realidade? Mas eu cheguei ao ponto em que desconheço arealidade. A realidade tem para mim formas monstruosas. Ainda falo como osoutros — ainda falo mas como num sonho. Titubeio. Caminho à pressa pelasruas, para me meter dentro do meu cubículo. E não me larga a impressãodaquele beijo que me deste e que me devorou até ao fundo da alma, deixandomena boca uma frescura deliciosa que nunca mais passa.Petrificado. Uma luz pastosa, uma toalha de luar, atmosfera feita de sonsmagoados, estendida sobre a planície seca, lisa até ao infinito. De súbito,

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