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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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para sonhar contigo, que não existes — e foste sempre para mim a únicarealidade.Estendi-te os braços, caí a soluçar, desfeito em lágrimas...É dia de entrudo hoje. Toda a vida é aborrecida e nula. Só tu me restas,minha vida. A vida é como aquele bêbado que anda aos tombos na lama e queme degrada, apesar de eu o não ver... Espera! Espera! Só o sonho existe. Crieite.Vou eu mesmo procurar-te: daqui a duas horas a pistola aperrada terá,enfim, por uma ligeira pressão no gatilho, para sempre unido à minha vida atua vida...Ó Morte libertadora, tu que acalmas todos os desesperos e resolves todas asdúvidas, aperta-me enfim nos teus férreos braços. Morte! Estou cansado.Tenho de há muito uma ferida no cérebro e o coração estoira-me de bater.Adivinho em ti o sonho sem limites. Tudo o que me pode acontecer de pior éprocurar o desconhecido e encontrar o nada. Mas isso mesmo vale mais doque o tédio e a aborrecida, a nula vida. Virei já do avesso todos os sonhos,esgotei-os, fui tudo em imaginação e não o fui na prática, falho de energia.Imaginei ser Deus e imaginei ser árvore. Estou farto de ver o sol e assisti já avárias primaveras. Conheci homens e países. Faço trinta anos e a vida vai paramim — se não tenho a coragem de procurar-te — reduzir-se a um hábito:adormecer com o mesmo sonho, cumprimentar com o mesmo frio sorriso,

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