25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Depois, me lembram agora porventura apenas as coisas boas e simples quetive na vida: um sorriso, primaveras, o encanto de uma amizade longínqua...Mas não te vês, não te sentes tu próprio aborrecido e vazio? Não é apenaso tedium vitae dos antigos. Estás cansado, consumiste-te, ardeste, sonhastedemais: nunca a tua vida poderá prolongar-se assim: resta-te entrares na vidaprática, seres nulo e banal — ou então morrer.Morte, tu que os homens têm vestido de horror, boca muda e enigmática,olhos vazios como covas. Morte consoladora — és tu afinal que me restas. Hácriaturas desonradas — tu abres-lhes os braços. Libertas. Consolas de todas asamarguras. Igualas. Desgraçados ou reis, beija-los com os mesmos lábiosgelados. Às criaturas a quem os nervos, por já não poderem mais, estalam —tu abres-lhes os braços. Aos que se sentem humilhados, arredados, oprimidospela injustiça — tu abres-lhes os braços. Aos criminosos e aos párias — tuabres-lhes os braços. Morte, Morte consoladora, abre-me, pois, os teus férreosbraços.»

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!