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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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opalino, por um azul do céu que os enterneça, lágrimas nos olhos a umapalavra sentida, coração como uma pedra diante de uma grande desgraça.Às vezes para fugir a mim mesmo percorro os arredores desolados dacidade. Deito-me na terra ao pé de uma poça e ponho-me a pensar...As rãs verdes atiraram-se à água: pelhau! pelhau!... Últimos dias de Abril eum calor de forno. Debrucei-me à beira da lagoa, à sombra, estendido nasagulhas dos pinheiros. Ao lume da água esverdeada e lisa nasciam salpicos defloração pequena e viva e verdes tufos de erva.Apenas me estendi, que logo as rãs deitaram a cabeça de fora, o olhoesbraseado e vivo posto em mim. Decerto o meu aspeto as tranquilizou, eadivinharam porventura a simpatia que eu tenho pelos bichos inocentes, poisque sacaram a barriga para o sol...Já à beira do caminho encontrara muitos sapos que nem buliram sequer,extáticos para o sol, para as árvores, para a primavera, na felicidade de sesentirem viver e crescer: à beira de um caminho, um tinha outro às costas; emcima de um calhau, outro parecia petrificado, a babar-se, numa fascinação. Etoda a lagoa fremia de vida: pequenos bichos viviam com ferocidade, álacres, ecorriam, nasciam, morriam contentes. Rãs pançudas coaxavam com satisfação,por estar calor e por vir a primavera; e uma tinha um coá-coá de baixo, tãoglutão, que eu mesmo me senti rir, enternecido. As árvores medravam,cobriam-se de flor. Não tive mão em mim, que não me pusesse de ouvido à

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