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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Supunha-se no país que ele se formara de aspirações irrealizáveis, da ânsia,das noites de febre dos doentes, dos sonhadores e dos poetas; de tudo o quenão tem destino, das tristezas vagas do crepúsculo, de quimeras inacabadas, decrimes, do sonho dos grotescos, que ali se petrifica no Deus solitário eincompleto assombroso de imobilidade, entre a floresta silenciosa, ereclamando sempre sofrimento, gritos, lágrimas.O Deus sustentava-se de dor. Nos noivos de cada ano escolhiam-se à sorteos sacrificados para o apaziguarem. Sacerdotes, vestidos de túnicas brancas,como quem desfolha flores à beira de uma cova, ofereciam ao monstro a vidados amorosos. O fim do sacrifício era um findar de ceifa, em que a terraficasse estivada de corpos jovens, de papoilas sangrentas.No país aterrorizado, todos os anos pelo princípio da primavera, paraapaziguar a cólera do Deus, se fazia a escolha dos noivos. Ninguém se atreviasequer a olhá-lo: parecia que as suas garras se cravavam em toda a terra, aesmagar a Vida e o Amor...E um grande terror na primavera, época dos noivados, pesados noscorações. Quem viveria? Quais dos que, de mãos enlaçadas e olhos nasestrelas, às noites falavam do amor, escapariam à morte? E a incerteza andavanas almas dos enamorados como um espectro negro a rondar. Se os seusolhos se prendiam, logo se afastavam uns dos outros com horror, e muitasmãos gelavam entre mãos queridas. Donde vieste tu, meu amor? Porventura

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