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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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comigo um dos múltiplos seres de que sou composto, acordado e de pé — aDúvida. Não me abandono nunca: vou a raciocinar, já de antemão tendo vistotudo, e tendo medo da amargura que resta sempre na alma... Duvido de tudo,até das coisas mais simples, de forma que, apesar da minha sensibilidade,parece que feita de propósito para o gozo — converto-o sempre em dor. Soucomo uma guitarra demasiado afinada e a que estalam as cordas...Vocês têm reparado numa coisa?... Que se vertem lágrimas unicamente porvermos os olhos de outros doentes... É por uma questão de alma idêntica quedamos esmola e que temos pena das desgraças alheias. A piedade é afinal pornós e não pelos outros...É como quando sei que estou a fazer uma coisa má e continuo; quando seique estou a fazer sofrer alguém que amo e continuo. Há uma parte do meu serque se revolta, mas não sei que fatalidade me impele e me faz ainda, para meesquecer, fazer pior...Hoje, por exemplo, foi para mim um dia de exaspero, destes dias em quenão amo ninguém — e agora bastou esta macieira, como uma frase sentida earrancada do fundo do coração numa conversa estéril e seca, para me arrasaros olhos de lágrimas... Como eu sou contraditório!A desgraça nos outros aflige-me por egoísmo. Quando alguém me descreveum doente ou eu o vejo, tenho pena do egoísmo: começo a ver aquela doença

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