25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— coveiro que anda a abrir a própria cova para enterrar o quê? Restos quepara nada importam, porque a alma, ilusões, tudo já despedacei. O meuinfortúnio faço-o eu, maldita sensibilidade! A minha alma corcova, compedaços torcidos, paralisias em parte e noutras tão sensível que se lhe nãopode tocar...A minha face empederniu-se. Apenas nas horas de dor um rictus ma corta,com uma expressão de amargura. Poderosa máscara arrepelada de dor, tenazformada pelo nariz recurvo e pelos fortes maxilares salientes. Depois há nosmeus olhos quietos e baços, nas menores linhas da minha figura, não sei quecanalhice, que massa de lágrimas e de esgoto!...De tudo o que queria ser se fez em mim uma grande derrocada. Por vezesainda um resto de ambição brilha num ímpeto, como uma lâmina que sedesembainha, mas logo cai prostrada e morta...Esta mesma secura em que vivo me aterra. Sou como uma criatura quevisse o fundo de todas as coisas: no amor o interesse, na caridade o egoísmo.Estou seco como um mirrado galho de árvore ao fim do estio e em tudoencontro o fastio e o tédio.O mesmo horror da morte me passou. Encolho os ombros agora, e, deentre tudo, só uma coisa me resta: o Sonho. No covil do meu quarto, dondeagora nunca saio, agarro-me com sofreguidão à mais miúda ideia, até que de aexagerar me canso. Tanto sonho que a queimo. Tenho mesmo os sonhos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!