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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Só a árvore esgalhada e seca o prendia ainda, a árvore sinistra que no seureino servia de forca.Ficou até de manhã de olhos postos naquele fantasma triste e enorme,negro como as ideias negras que tecia, seco como a sua própria alma — aárvore desmedida que no seu reino servia de forca... Começaram os cerros atingir-se de violeta, as árvores a azular, e a forca, em que se absorvia, adestacar-se de entre a névoa, a árvore esgalhada e imensa que havia séculosperdera a seiva e a vida.De súbito, ficou imóvel de espanto. Aquecida com o amor de doismendigos, tinha o galho em que pendiam enforcados cheinho de flor. Dura emá como as pragas juntara no ramo que os cobria toda a flor que a terraassolada não pudera produzir. Era nada, quase nada, algumas flores miudinhasprestes a sumirem-se ao primeiro sopro — era dor estreme e sonho estreme.Nos seus braços tinham sido enforcados muitos desgraçados e as suas raízesmortas pelas lágrimas de aflição. Tolhida com os gritos, não bebia água nemsugava húmus. Vira passar homens, primaveras e reinados, sem se comover,mão arrepelada a amaldiçoar a terra e o castelo. Assistira a transformações desolo, a tempestades, a cataclismos e a guerras, sempre petrificada como amorte — e naquela noite, trespassada pelo amor dos dois mendigos,desentranhara-se em ternura, como se nela se concentrasse toda a paixão, aprimavera e o noivado da terra — a árvore maldita que desde séculos servia deforca.

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