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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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terra, a escutá-la estremecer, desentranhando-se em vida e em amor. Que bafoé este procriador que atravessa a matéria, a fecunda e a transforma em seres eem vida? Que força é esta, única, cega, que cria, organiza, e além transforma?Quem me diz a mim que ainda não hei de vir a ser rã, ou espinheiro de valado,e que, morta a razão, não terei enfim a felicidade dos bichos — a de sesentirem viver?...A imobilidade não existe, a morte é uma transformação apenas... Ser hojehomem, amanhã ser sapo ou ser flor, que importa? Tudo se paga; a felicidadeque estes bichos têm não me pertence: nem sou vivaz como este espinheiroflorido, nem o sol, a luz, a primavera, me impressionam como a eles. Seraciocino, eles não têm coração para ser despedaçado, nem alma para que osoutros se riam.Que é Deus? É esta força inconsciente, cega, fecunda, que rebenta namatéria, enche de flores as árvores, de emoção os poetas, e, cega como odestino, forte, sem piedade, tudo transforma, e leva, num aluvião, corações,lágrimas, cérebros, para irem mais tarde, numa outra primavera, cobrir de floras cerejeiras?...Borboletas noivavam, perseguiam-se aos pares, amarelas, escarlates, cor-derosa— pequenas flores a voar, a estremecer na luz, a poisar de leve nosgalhos... Borboletas, árvores, bichos, a cada primavera que vem, toda a terra

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