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Não sei bem que impressão amarga e simultaneamente cândida havianaquele ser grotesco, tão humilde a confessar que amava. Não sei também quebaque o Pita sentiu, que se transfigurou comovido e lhe disse:— Tens então uma única coisa a fazer... Vou-ta dizer sem frases, como sefosse teu amigo desde pequenino... Morre por ela... A vida é lastimosa eestúpida para nós que não cremos e estamos gastos e nulos. A vida é umasérie de desgraças, de maldades e coisas importunas e reles. Tens vivido, tensimaginado tudo, tens visto corações, lágrimas, desesperos. Que mais te poderestar? Vinte anos piores, dias a sucederem-se aos dias — noites de circo, a D.Felicidade, as minhas palavras que se repetem, o teu sonho que já nem teilumina, pois que estás gasto e aborrecido até de sonhar. És grotesco, éverdade. Mais um passo e ficas sozinho dentro de um palácio desabitado. Eisaqui que aparece agora uma bela ocasião de morreres, o prazer único demorreres por uma criatura que adoras. Não a deixes fugir. Será a melhor coisada tua vida, um fim como tu não merecias. Morre por ela... Depois de estaresseco, morrerás com este encanto: o da tua alma se cobrir como as árvores!...Uma pausa e depois insistiu:— Mata-te — porque morres em estado de graça. Despida da matéria, a tuaalma adquire a tensão máxima, uma força, uma expansão inexprimível. Supõeque depois de morto vais possuí-la na outra vida. Imagina a tua almaacompanhando-a sempre — até nos momentos mais secretos, hein?...