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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Como soube que nas concavidades dos montes, nas noites caladas etúmidas de luar, há mendigos sequiosos de amor? Desgraçados que passam avida à espera de uma boca que lhes estanque a sede que os devora? Sonhosdesesperados e febris, fomes, almas que se perdem, criaturas que raivam comurros bravios, chagas e podridões, e que, entre pragas, pedem a Deus alguémque lhes beije a boca gretada?— Vou partir sozinha... — anunciou um dia.Opuseram-se os pais. Mas ela todo o dia e toda a noite chorou. Vierambispos, santos e o velho solitário, seco e nodoso, que parecia o tronco de umaárvore, e que disse: — É a vontade de Deus. — Ofereceram os reis os seustesouros, construíram-se templos, fizeram-se promessas. E a santa Eponina,sem uma queixa, todo o dia e toda a noite chorava. A voz chamava-a, cada vezmais alto a chamava. Até que vieram os castigos, e dois anos as terras desemeadura não deram pão. E o velho solitário incessantemente pregava noscampos: — Deixem cumprir a vontade de Deus!Vê-la morta! Antes vê-la morta do que deixá-la partir por esse mundo, puracomo um lírio, entregue às mãos do diabo! Era a única filha daqueles reis, agraça da sua velhice, e delicada como uma flor. Mas outro ano estéril veio. Acorte heráldica, recortada em ouro, desapareceu, fugiu; os homens esmolaram,reduzidos a osso. Ressequidas sob a vastidão implacável do céu, as campinaspareciam planícies doutro mundo já morto. As águas encharcaram, os campos

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