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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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CAPÍTULO VA ÚLTIMA FARSAO circo estava ainda a meia luz e o prato da arena deserto quando oPalhaço entrou. As cariátides de mármore branco que sustentavam os balcõesdiluíam-se na púrpura dos estofos em atitudes de esforço. Rompeu a sinfonia,os jovens de calções vermelhos abriram alas no estrado, e o lustre, como umagrande flor que se abre, desceu, dando toda a claridade à sala. Em cima, noalto, luziam riscos de fogo dos trapézios, uma confusão de redes, de aramescruzados, e, então, enquanto uma mulher a cavalo furava com a graça do vooarcos de papel branco, o público indiferente ficou silencioso.Seguiu-se um trabalho de agilidade e de força: os três Fersts desceram arampa num pulo, e um palhaço, vestido de lilás e de carapuça branca,começou aos encontrões às barras onde eles trabalhavam. Saltavam comopedaços de estofo atirados pelo ar. Suspendiam-se pelos pés, tão equilibradose seguros que a multidão, já ruidosa, começou a aplaudi-los.Coube depois a vez aos patinadores, ela grácil e rápida, desaparecendo noestrado, floco de espuma lilás levado pelo vento, eles grotescos e pançudos,como sapos verdes, amarelos, roxos, negros, que a perseguissem, aos pinchosdesajeitados. E ela fugia-lhes sempre, graciosa, de braços arqueados e umsorriso postiço nos lábios vermelhos.

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