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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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de cetim escarlate ou verde, calvos e ossudos, dançaram uma farândola deepilepsia, para soltarem de repente as mãos, caindo em baques pícaros e aosrugidos. De repente imobilizaram-se, bateram os dentes, com bocas rasgadasaté às orelhas, só bocas, numa expressão de terror cómico.Não sei que aflitiva tristeza correu por todo o circo, agora petrificado,quando os criados cobriram de veludo um estrado de madeira. Em torno,todos os clowns se sentaram em silêncio. Uma mulher desceu a rampa, comum triste, um cansado sorriso à flor dos lábios. Serena subiu para o meio dosangue estagnado do estrado, e parecia uma flor atirada para uma mesa deautópsia. Os palhaços calvos e hirtos, de olhares fixos, batiam os dentes demedo, e ela sempre com o mesmo sorriso resignado contorcionou- se comoum aranhiço, sorrindo sempre... Até que no meio dos palhaços, que fugiramde roldão, foi arrebatada como uma castelã roubada por mendigos, numanoite de pesadelo e de loucura...E a música recomeçou o galope — e os cavalos escavaram a arena,montados por mulheres e homens do circo. Que velha, que encantadoraalegoria, representava aquela perseguição, à roda, sempre à roda, em que asraparigas defendiam flores escondidas nos seios, que os homens procuravamroubar-lhes com beijos?...Visto de cima donde o Palhaço se instalara, o circo retomava o seu aspetode delírio, de redemoinho afunilado onde apenas cabeças sobrenadavam e

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