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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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os outros, de tanto escutarem, vão ouvindo por hábito sempre as mesmascoisas, monótonas e repetidas...Para afinal morrer!... É certo: todo este sonho, esta luta, toda a vida feita dedesesperos e de lágrimas, de coisas encadeadas, umas ridículas e outrasdolorosas — para afinal morrer!... Se olho para trás, é a mesma cadeia, tecida alama da vida e a ouro do sonho, amassada nas mesmas lágrimas; se me ponhoa ver o que me espera, é a mesma coisa ainda: caras que envelhecem e sefazem duras, corações petrificados, o mesmo tédio, a mesma rua comprida eestúpida. Que estás tu aqui a fazer?... Ah sim, os outros!... Os outros não meimportam — se não os odeio... Para que é que eles me humilham? Para que éque eles triunfam na vida? Para que é que são felizes, quando eu medesespero?...E a verdade negra é que esta mesma inveja me dilacera... Quando meponho a odiá-los, ao sorrir-lhes, uma voz se encarniça dentro de mim, abradar-me: Sou um invejoso! Sou um invejoso!... E depois tenho a noiteperdida, deprimido, humilhado, a cara a doer-me de lhes ter sorrido, na alma orancor, a vontade de romper um dia a cuspir-lhes o meu ódio...Mas isto não dura, pois que eu nem no ódio tenho energia...Esta noite bem vi que falavam de mim e que se riam de mim. Bem o sei ebem o sinto, e é humilhado, rasteiro, que eu me ponho a escutá-los, a falarlhes...

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