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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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— Não me despreza. Nem me importo. E depois amo-a. Vou para casa,com febre, transido, e cismo e sonho — e tudo isto no infinito se realizaafinal...— Se realiza?...— É como uma brancura, uma grande árvore, cujos galhos secos, de cadavez que o meu coração estala e o meu amor e o meu sonho vão sendomaiores, se cobrem de flores... Não vivo senão para isto, e, quanto maishumilde e mais batido, quanto maior for a minha dor, sinto bem que maisfeliz serei depois...— Tudo se realiza então?...— Tudo. As árvores que não chegam a dar flor e as ilusões que nãoacabaram de criar-se...Deram com um muro. Saltaram-no. E tomaram por um olival, mudo sob oluar, o Palhaço esguio, o clown torto e de chapéu alto. As árvores desciam aencosta, aflitivas de imobilidade. Faziam ambos na noite gestos desesperados.— Realizar... Tornar material o pensamento, apenas porque o transmito daalma aos nervos, dos nervos aos músculos!... Um Poeta sonha e, embora nãocongele, em matéria, ideias e sentimentos — podes tu acaso crer que nãotomem corpo, não vivam, e se não realizem no infinito?... Tudo: a pena que asárvores têm, porque não chegaram à primavera, para noivarem, os amores

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