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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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Cada ano, em Abril, a procissão dos noivos entrava na floresta como umsoluço que a atravessasse. Era ao cair da tarde, ao fim do dia pálido emelancólico. Caminhava a fila, numa tristeza feita de saudade do que se perdecom a vida de aspiração e de sonho. Brancos, iam enlaçados aos pares. Delesseriam escolhidos os que iam morrer — e, entrando na floresta, não sabiambem se caminhavam para a morte se para o amor... Sabiam que iam morrerpara apaziguarem o Deus e para que houvesse menos dor no mundo...Atrás iam os sacerdotes, vestidos de linho e a cantar.Ora nos princípios de Abril desse ano, tinha havido um calor excecional.Alguns dias de chuva e vento desabrido, e depois, de um dia para o outro,uma corrente magnética atravessou o espaço.O vento cessou, descerrou-se o sol: ouro embebido em azul —entontecimento — e as árvores, trespassadas de luz, estremeceram edesentranharam-se logo em flor. Noites quietas, caladas, mornas, e um luarmajestoso.De noite, tarde, saí. Parecia verão. Ainda fim de inverno e uma noite comoesta! Uma noite translúcida, uma noite misteriosa e suspeita... Cada noite quepassa entranha- se na alma com ânsia e terror. Magoa-me e deixa-me extático.Mais uma que foge! E outra ainda!... E quantas mais, para as não tornar a ver,para não tornar a sentir este mágico esplendor? Uma a uma somem-se nosilêncio, tão grande que o sinto de encontro ao meu peito — e uma a uma

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