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sumário<br />
1. Preconceito racial, ou preconceito<br />
lingüístico?<br />
2. Uma questão lingüística<br />
2.1 Na língua o que existe são valores<br />
2.2 Todo sentido é ideológico<br />
resumo<br />
AS PALAVRAS E A JUSTIÇA:<br />
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLICEMIA<br />
A PARTIR DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL<br />
Ormezinda Maria Ribeiro*<br />
2.3 As múltiplas faces da linguagem<br />
3. Para concluir: uma questão de polícia,<br />
ou de linguagem?<br />
4. Referências Bibliográficas<br />
Esse artigo faz algumas considerações sobre a polissemia das palavras, a partir de uma notícia de<br />
jornal, procurando mostrar que a questão lingüística, nesse exemplo considerado, imbricada à<br />
questão dos direitos constitucionais, é muito mais uma questão de embate discursivo do que<br />
propriamente uma questão jurídica. Para tal, recorre à ciência Lingüística tomando-lhe as definições<br />
de signo.<br />
A palavra não é luminosa estrela<br />
Sequer desarticulada ilha de afinidades<br />
Estopim aceso, sim, águas de inquietação,<br />
A palavra não é jogo de dados.<br />
Jogo de dúvidas, sim, de dádivas.<br />
Dados envenenados de selvagem silêncio.<br />
Por um fio a palavra é prata.<br />
Por um fio a palavra é pata de cavalo<br />
por um fio, ato de injustiça.<br />
(Lindolf Bell)<br />
1<br />
PRECONCEITO RACIAL,<br />
OU PRECONCEITO LINGÜÍSTICO?<br />
Uma notícia veiculada há algum em um jornal<br />
despertou-nos a atenção: um vereador prestou<br />
queixas à polícia alegando preconceito contra<br />
a raça negra, motivado por um ‘’out door’’<br />
que trazia o seguinte texto:<br />
‘’Se você não deseja um futuro negro<br />
para seu negócio (...)”<br />
O que nos chamou a atenção não foi o zelo<br />
do vereador em defender uma nobre causa, mas<br />
o fato de, daí, podermos constatar que há muito<br />
o que se aprender sobre a tão complexa linguagem<br />
dos homens. A língua portuguesa, ou qualquer<br />
outra língua não é tão somente um amontoado<br />
de palavras, cujos significados jazem em um<br />
dicionário que podem ser ‘’vetados ‘’ ou ‘’autorizados’’<br />
por uma lei. A linguagem está impregnada<br />
de fatores ideológicos que não se resolvem<br />
com um simples boletim de ocorrência. Tira-se<br />
a palavra, mas não o preconceito.<br />
Para organizar melhor essas considerações<br />
começarei indagando: o que diz o enunciado<br />
conotativo sobre a realidade? E na esteira de<br />
Paul Ricoeur 1 em seu texto de introdução ao<br />
estudo VII faço as mesmas considerações a fim<br />
de atravessar o limiar do sentido para a referência<br />
do discurso. A questão da referência pode<br />
ser posta nos nível da semântica, quando<br />
concerne às entidades do discurso da ordem da<br />
frase. E no nível da hermenêutica, quando se<br />
dirige a entidades de maior dimensão que a frase.<br />
É nesse nível que o problema toma toda sua<br />
extensão 2 .<br />
____________________<br />
* Ormezinda Maria Ribeiro, Mestre em Lingüística pela UFU, doutoranda em Lingüística pela UNESP; professora da Universidade de Uberaba.<br />
1 RICOEUR, Paul. A metáfora viva. São Paulo: Loyola, 2000. p. 331.<br />
2 Ibdem, p. 332<br />
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