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O valor de uma palavra só pode ser fixado<br />
se pudermos trocá-la por este ou aquele conceito,<br />
ou seja, por algo que tem esta ou aquela<br />
significação e ainda compará-la com os valores<br />
semelhantes, com as palavras que se lhe podem<br />
opor. O conteúdo de uma palavra só pode ser<br />
determinado pelo concurso do que está fora dela,<br />
pois se faz parte de um sistema, está revestida<br />
não só de uma significação como de um valor.<br />
O valor, portanto, só pode ser determinado<br />
negativamente. Uma palavra só é o que é<br />
porque as outras não o são . Não há absoluto e<br />
anterior. É o papel, a função, que determinam e<br />
estabelecem o valor.<br />
A língua é constituída por um conjunto de<br />
diferenças fônicas e conceptuais , que são ora<br />
associativas, ora sintagmáticas. É esse conjunto<br />
de relações usuais que constitui e preside o seu<br />
funcionamento.<br />
Há que se verificar a série de agrupamentos<br />
possíveis, quer no plano sintagmático, quer no<br />
plano paradigmático para se estabelecer o valor,<br />
pois a relação da língua com a linguagem<br />
direcionada pela arbitrariedade faz com que<br />
nossa mente opere no tempo a <strong>capa</strong>cidade de<br />
coordenar e associar no aspecto semântico,<br />
fonológico, sintático, morfológico.<br />
Nossa mente executa a operação que consiste<br />
em eliminar mentalmente tudo que não leva<br />
à diferenciação requerida, no ponto requerido,<br />
fazendo os agrupamentos necessários a esse<br />
processo de determinar o valor. Observando as<br />
seqüências:<br />
1-Ala 7-Bala<br />
2-Cala 8-Dala<br />
3-Fala 9-Gala<br />
4-Mala 10-Pala<br />
5-Rala 11-Sala<br />
6-Tala 12-Vala<br />
Verificamos que a simples troca de um elemento<br />
fonológico introduz uma mudança significativa<br />
de significado. Nossa memória se encarrega<br />
de reservar todos os tipos de sintagmas<br />
mais ou menos complexos de qualquer espécie<br />
ou extensão que possam ser, e, no momento de<br />
empregá-las, fazemos intervir os grupos associativos<br />
para fixar nossa escolha18 .<br />
O verbo “to be” em Inglês , se comparados<br />
aos nossos verbos “ser” e “estar” em Português<br />
____________________<br />
18 Idem, p. 151.<br />
19 Idem, p. 137.<br />
AS PALAVRAS E A JUSTIÇA<br />
45<br />
UNIJUS<br />
pode exemplificar a noção de valor dentro da<br />
analogia proposta por Saussure 19 .<br />
Se considerarmos o que significa a expressão<br />
em Inglês: “The cat is black” e compará-la<br />
com o sua equivalente em Português “O gato é<br />
preto” ou “O gato está preto” Em Português há<br />
uma substancial diferença entre “ser” e “estar”.<br />
“Ser” é inerente ao sujeito é estado permanente,<br />
enquanto “estar” é condição transitória. Em “O<br />
gato é preto,” tem-se uma condição permanente,<br />
ao passo que em “O gato está preto” , tem-se<br />
uma condição momentânea, transitória, que bem<br />
pode mudar de estado de um momento a outro.<br />
Se para nós, falantes da língua portuguesa,<br />
o emprego de ser ou estar representa o emprego<br />
de valores diferentes, posto que ser não é estar e<br />
vice-versa, para os usuários da língua inglesa,<br />
esta distinção não é relevante.<br />
A tradução de palavras de uma língua para<br />
outra pode certamente, explicar a noção de valor.<br />
A palavra inglesa “cheese”, a palavra francesa<br />
“fromage” equivalentes em Português à<br />
palavra “queijo”, podem ter a mesma significação,<br />
porém, não o mesmo valor.<br />
Quando um inglês usa “cheese”, ele se refere<br />
a algo leitoso e cremoso, quase sem gosto,<br />
ou a algo duro e forte que se pode comer sem<br />
outra coisa. O francês quando diz “fromage”<br />
pensa em queijos diferentes, dependendo da<br />
região onde mora, da hora do dia em que vai<br />
comer e associa sempre a um tipo específico de<br />
pão e vinho. Na França, a palavra “fromage”<br />
designa de modo geral, centenas de tipos de<br />
queijo. Ao passo que para um brasileiro falar<br />
em “queijo” é associá-lo com doce de leite ,<br />
goiabada, pão com manteiga e o café com leite.<br />
Coisas absolutamente inassociáveis para os<br />
franceses e os ingleses.<br />
Portanto, dizer “queijo” não é dizer<br />
“fromage” ou “cheese”; dizer “fromage” não é<br />
dizer “queijo” ou “cheese”; dizer “cheese” não é<br />
dizer “queijo, nem ” “fromage.”Aqui se percebe<br />
claramente a noção d valor quando no campo<br />
semântico se nota que uma pa-lavra é o que a<br />
outra não é . Verifica-se aqui, também que o<br />
momento da criação de um signo (queijo, cheese,<br />
fromage) é arbitrário e convencional naquela língua<br />
(queijo é queijo, não é fromage, nem cheese).<br />
Concorre também esse exemplo, para mostrar<br />
que uma língua é algo social e nasce por