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capa unijus 5.p65 - Uniube

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O valor de uma palavra só pode ser fixado<br />

se pudermos trocá-la por este ou aquele conceito,<br />

ou seja, por algo que tem esta ou aquela<br />

significação e ainda compará-la com os valores<br />

semelhantes, com as palavras que se lhe podem<br />

opor. O conteúdo de uma palavra só pode ser<br />

determinado pelo concurso do que está fora dela,<br />

pois se faz parte de um sistema, está revestida<br />

não só de uma significação como de um valor.<br />

O valor, portanto, só pode ser determinado<br />

negativamente. Uma palavra só é o que é<br />

porque as outras não o são . Não há absoluto e<br />

anterior. É o papel, a função, que determinam e<br />

estabelecem o valor.<br />

A língua é constituída por um conjunto de<br />

diferenças fônicas e conceptuais , que são ora<br />

associativas, ora sintagmáticas. É esse conjunto<br />

de relações usuais que constitui e preside o seu<br />

funcionamento.<br />

Há que se verificar a série de agrupamentos<br />

possíveis, quer no plano sintagmático, quer no<br />

plano paradigmático para se estabelecer o valor,<br />

pois a relação da língua com a linguagem<br />

direcionada pela arbitrariedade faz com que<br />

nossa mente opere no tempo a <strong>capa</strong>cidade de<br />

coordenar e associar no aspecto semântico,<br />

fonológico, sintático, morfológico.<br />

Nossa mente executa a operação que consiste<br />

em eliminar mentalmente tudo que não leva<br />

à diferenciação requerida, no ponto requerido,<br />

fazendo os agrupamentos necessários a esse<br />

processo de determinar o valor. Observando as<br />

seqüências:<br />

1-Ala 7-Bala<br />

2-Cala 8-Dala<br />

3-Fala 9-Gala<br />

4-Mala 10-Pala<br />

5-Rala 11-Sala<br />

6-Tala 12-Vala<br />

Verificamos que a simples troca de um elemento<br />

fonológico introduz uma mudança significativa<br />

de significado. Nossa memória se encarrega<br />

de reservar todos os tipos de sintagmas<br />

mais ou menos complexos de qualquer espécie<br />

ou extensão que possam ser, e, no momento de<br />

empregá-las, fazemos intervir os grupos associativos<br />

para fixar nossa escolha18 .<br />

O verbo “to be” em Inglês , se comparados<br />

aos nossos verbos “ser” e “estar” em Português<br />

____________________<br />

18 Idem, p. 151.<br />

19 Idem, p. 137.<br />

AS PALAVRAS E A JUSTIÇA<br />

45<br />

UNIJUS<br />

pode exemplificar a noção de valor dentro da<br />

analogia proposta por Saussure 19 .<br />

Se considerarmos o que significa a expressão<br />

em Inglês: “The cat is black” e compará-la<br />

com o sua equivalente em Português “O gato é<br />

preto” ou “O gato está preto” Em Português há<br />

uma substancial diferença entre “ser” e “estar”.<br />

“Ser” é inerente ao sujeito é estado permanente,<br />

enquanto “estar” é condição transitória. Em “O<br />

gato é preto,” tem-se uma condição permanente,<br />

ao passo que em “O gato está preto” , tem-se<br />

uma condição momentânea, transitória, que bem<br />

pode mudar de estado de um momento a outro.<br />

Se para nós, falantes da língua portuguesa,<br />

o emprego de ser ou estar representa o emprego<br />

de valores diferentes, posto que ser não é estar e<br />

vice-versa, para os usuários da língua inglesa,<br />

esta distinção não é relevante.<br />

A tradução de palavras de uma língua para<br />

outra pode certamente, explicar a noção de valor.<br />

A palavra inglesa “cheese”, a palavra francesa<br />

“fromage” equivalentes em Português à<br />

palavra “queijo”, podem ter a mesma significação,<br />

porém, não o mesmo valor.<br />

Quando um inglês usa “cheese”, ele se refere<br />

a algo leitoso e cremoso, quase sem gosto,<br />

ou a algo duro e forte que se pode comer sem<br />

outra coisa. O francês quando diz “fromage”<br />

pensa em queijos diferentes, dependendo da<br />

região onde mora, da hora do dia em que vai<br />

comer e associa sempre a um tipo específico de<br />

pão e vinho. Na França, a palavra “fromage”<br />

designa de modo geral, centenas de tipos de<br />

queijo. Ao passo que para um brasileiro falar<br />

em “queijo” é associá-lo com doce de leite ,<br />

goiabada, pão com manteiga e o café com leite.<br />

Coisas absolutamente inassociáveis para os<br />

franceses e os ingleses.<br />

Portanto, dizer “queijo” não é dizer<br />

“fromage” ou “cheese”; dizer “fromage” não é<br />

dizer “queijo” ou “cheese”; dizer “cheese” não é<br />

dizer “queijo, nem ” “fromage.”Aqui se percebe<br />

claramente a noção d valor quando no campo<br />

semântico se nota que uma pa-lavra é o que a<br />

outra não é . Verifica-se aqui, também que o<br />

momento da criação de um signo (queijo, cheese,<br />

fromage) é arbitrário e convencional naquela língua<br />

(queijo é queijo, não é fromage, nem cheese).<br />

Concorre também esse exemplo, para mostrar<br />

que uma língua é algo social e nasce por

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