19.04.2013 Views

capa unijus 5.p65 - Uniube

capa unijus 5.p65 - Uniube

capa unijus 5.p65 - Uniube

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

UNIJUS<br />

46<br />

AS PALAVRAS E A JUSTIÇA<br />

determinação histórica, ditada por condições<br />

específicas de uma sociedade e de uma cultura.<br />

A arbitrariedade do signo é a origem do caráter<br />

opositivo das entidades denominadas<br />

significantes e significados, que só são o que são<br />

,porque são delimitadas por outras entidades<br />

que com elas coexistem. Nas oposições se estabelecem<br />

e se delimitam os valores.<br />

Outro princípio que rege o signo lingüístico<br />

é o da linearidade. Os signos lingüísticos só podem<br />

ser codificados em uma sucessão linear de<br />

situações em razão de seu significante ser de<br />

natureza auditiva, pois assim sendo, seus elementos<br />

se apresentam um após outro, dispondo<br />

apenas da linha do tempo.<br />

A linearidade pode, então ser definida como<br />

a <strong>capa</strong>cidade do signo lingüístico de se desenvolver<br />

no tempo. Sendo assim, toma do tempo<br />

algumas de suas características: é uma extensão.<br />

Apresentando-se obrigatoriamente um após o<br />

outro , os signos formam uma cadeia que pode<br />

ser mensurável numa só dimensão. A linearidade<br />

é a origem do caráter sintagmático das entidades<br />

lingüísticas: elas se desenvolvem ao longo de um<br />

eixo sucessivo, podendo se decompor em segmentos<br />

de menor extensão. Todo o mecanismo<br />

da língua depende dessa característica 20 .<br />

A língua provém do cruzamento desses<br />

dois princípios. De um lado a arbitrariedade<br />

como origem do caráter opositivo das entidades<br />

denominadas significantes e significados e de<br />

outro a linearidade como origem do caráter<br />

sintagmático das entidades. Todo o mecanismo<br />

da língua se baseia nesses dois tipos de relações.<br />

As relações baseadas no caráter linear da língua,<br />

cujos termos se alinham um após outro na cadeia<br />

da fala e se apóiam na extensão, são<br />

sintagmáticas; aquelas que se baseiam em associações,<br />

reportando-se à memória do falante e<br />

fazem surgir no espírito deste uma série de outras<br />

palavras que, de certa forma guardam um<br />

laço de afinidade são paradigmáticas.<br />

De acordo com Saussure 21 o signo lingüístico<br />

tem ainda a característica de ser ao mesmo<br />

tempo mutável e imutável.<br />

Imutabilidade é a condição do signo de não<br />

poder ser substituído por outro e refere-se ao<br />

caráter relativo da arbitrariedade, pois um signo<br />

é arbitrário unicamente em razão da relação<br />

significante/significado, mas acarreta uma herança<br />

comunicacional que resiste a qualquer tentativa<br />

de substituição. Se em relação à idéia que<br />

representa, o significante, graças à arbitrariedade,<br />

pode ser livremente escolhido, em relação à<br />

comunidade lingüística que o emprega, ele não é<br />

livre, é imposto.<br />

Alguns fatores contribuem para isto: a própria<br />

arbitrariedade do signo põe a língua ao abrigo<br />

de toda tentativa que vise a modificá-la; o<br />

grande número de signos que constitui uma língua<br />

representa uma dificuldade na substituição<br />

e também o caráter complexo do sistema que é<br />

constituído pela língua.<br />

A complexidade de tal sistema só pode ser<br />

compreendida pela reflexão e a massa não pode<br />

transformá-la sem a intervenção de especialistas.<br />

No entanto, até hoje estas intervenções jamais<br />

lograram êxito; a resistência da inércia coletiva<br />

a toda renovação lingüística é outro fator<br />

que condiciona a imutabilidade do signo<br />

lingüístico. A língua é produto de forças sociais<br />

que atuam em função do tempo, e forma um<br />

todo com a vida da massa social e esta, por sua<br />

vez, sendo inerte se apresenta como um fator de<br />

conservação. 22 .<br />

Não se pode desvincular a força da coletividade<br />

da ação do tempo que atua na língua, são<br />

ambos os fatos que dão a ela o caráter de fixidez.<br />

Nossa liberdade de escolha do signo<br />

lingüístico está limitada pela solidariedade com<br />

o passado. Tal como exemplificou Saussure 23 :<br />

dizemos ‘’negro’’ e ‘’branco’’, porque antes de<br />

nós se disse ‘’negro’’ e ‘’branco’’.<br />

Assim, a convenção arbitrária faz com que<br />

a escolha seja livre e o tempo fixa essa escolha.<br />

Nas palavras de Saussure 24 :“(...)porque o signo<br />

é arbitrário, não conhece outra lei senão a da<br />

tradição e é por basear-se na tradição que pode<br />

ser arbitrário.”<br />

Mutabilidade é uma outra característica do<br />

signo lingüístico. É a condição que tem o signo<br />

de ser alterado. O mesmo tempo que faz com<br />

que a língua continue, faz com que ela se altere<br />

mais ou menos rapidamente. Esta afirmação pode<br />

____________________<br />

20 Idem, p. 158.<br />

21 SAUSSURE, op. cit., p. 85<br />

22 RIBEIRO, Ormezinda. M. O ensino de gramática na escola: suas relações com o signo lingüístico e com a articulação do pensamento na língua.<br />

1999, Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia.<br />

23 RIBEIRO, op. cit.<br />

24 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 2. ed. São Paulo: Hucitex, 1995. Tradução do original russo de 1929. p. 31.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!