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capa unijus 5.p65 - Uniube

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nos parecer contraditória, no entanto, a oposição<br />

entre os dois termos marcantes, mutabilidade<br />

e imutabilidade atribuídas ao signo lingüístico e<br />

à ação do tempo na língua, não constitui um<br />

paradoxo. Esta oposição marca uma verdade que<br />

não se pode negar: a língua se transforma sem<br />

que os indivíduos possam transformá-la.<br />

O princípio da alteração se baseia no princípio<br />

da continuidade. O signo só pode ser alterado<br />

porque continua. Essa alteração leva sempre a<br />

um deslocamento da relação entre o significado e<br />

o significante e é a arbitrariedade do signo que faz<br />

com que a língua seja in<strong>capa</strong>z de se defender dos<br />

fatores que promovem esse deslocamento 25 .<br />

É importante considerar que se a língua não<br />

está limitada por nada na escolha de seus meios e<br />

nada nos impede de associar uma idéia qualquer<br />

com uma seqüência sonora qualquer, temos, então,<br />

que o signo lingüístico não é puramente a<br />

tradução de um pensamento já constituído, mas<br />

a sua própria condição de realização.<br />

2.2 Todo sentido é ideológico<br />

Com uma visão diferente de Saussure,<br />

Bakhtin 26 concebeu o signo como uma entidade<br />

necessariamente ideológica. Para este autor, há<br />

uma transferência em nossas mentes dos elementos<br />

significativos isoláveis de uma enunciação.<br />

A cada enunciação de outrem que estamos<br />

no processo de compreender, fazemos corresponder<br />

uma série de palavras nossas. A significação,<br />

segundo seu ponto de vista, pertence a<br />

uma palavra enquanto traço de união entre os<br />

interlocutores, ou seja, ela só se realiza no processo<br />

da compreensão em que há ação e interação.<br />

Sob este prisma, o signo, ideológico, se realiza,<br />

então, na dialogia. Há que se compreender que<br />

cada palavra emitida “é determinada tanto pelo<br />

fato de que precede de alguém, como pelo fato<br />

de que se dirige para alguém” 27 .<br />

A significação é efeito da interação do locutor<br />

e do receptor, produzido através do material<br />

de um determinado complexo sonoro, conforme<br />

ressalta Bakhtin 28 .<br />

“É como uma faísca elétrica que só se produz<br />

quando há contato de dois pólos opostos ”<br />

AS PALAVRAS E A JUSTIÇA<br />

47<br />

UNIJUS<br />

Sem signo não existe ideologia. Tudo que é<br />

ideológico possui um significado (um valor<br />

semiótico) e remete a algo situado fora de si mesmo.<br />

A ideologia só existe pelo signo, que por sua<br />

vez pode distorcer a realidade, ser-lhe fiel ou<br />

apreendê-la de um ponto de vista específico.<br />

A palavra é o signo ideológico por excelência<br />

e toda a sua realidade é absorvida por sua<br />

função de signo. No entanto, existem outras<br />

manifestações do pensamento ideológico que se<br />

integram ao discurso e não têm existências próprias<br />

se totalmente isoladas dele. Todavia, nenhum<br />

signo ideológico específico é inteiramente<br />

substituível por palavras 29 .<br />

O signo cruz, por exemplo, reflete e refrata<br />

outra realidade que não é a cruz, como valor<br />

intrínseco a si mesmo, mas o cristianismo e toda<br />

a carga ideológica nele contida.<br />

O signo para Bakhtin é revestido de tema e<br />

significação.Tema é o sentido da enunciação completa,<br />

é individual e não reiterável: cada enunciação<br />

tem um único sentido. O tema de uma<br />

enunciação é determinado tanto pelas formas<br />

lingüísticas que entram na composição (as palavras,<br />

os sons, a entoação etc.) como pelos elementos<br />

não-verbais. Só possui um tema, a<br />

enunciação tomada em toda a sua amplitude concreta,<br />

como fenômeno histórico.<br />

Significação representa para Bakhtin 30 os<br />

elementos da enunciação que são reiteráveis e<br />

idênticos, cada vez que são repetidos. É um aparato<br />

técnico para a realização de um tema. É um<br />

potencial, uma possibilidade de significar no interior<br />

de um tema concreto. A multiplicidade<br />

das significações é o índice que faz de uma palavra<br />

uma palavra.<br />

Para entendermos o signo ideológico de<br />

Bakhtin é necessário estabelecer que a relação<br />

entre o significado (pensamento ou referência) e<br />

o símbolo (palavra) não é unívoca; o significado<br />

é um campo semântico que se constitui de uma<br />

base determinada (significação) e de um espaço<br />

de indeterminação. Para Bakhtin investigar uma<br />

palavra com base em sua significação somente é<br />

o mesmo que considerá-la no sistema da língua,<br />

ou seja, investigar uma palavra dicionarizada.<br />

O contexto é outro elemento que entra na<br />

constituição do signo ideológico. Embora Ben-<br />

____________________<br />

25 RIBEIRO, op. cit.<br />

26 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 2. ed. São Paulo: Hucitex, 1995. Tradução do original russo de 1929. p. 31.<br />

27 Idem, op. cit., p. 113<br />

28 Idem, p. 132<br />

29 RIBEIRO, op. cit.<br />

30 BAKHTIN, op. cit., p. 36.

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