Construção do conhecimento agroecológico - Ministério do ...
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Essa mudança nos aju<strong>do</strong>u bastante a compreender as racionalidades e estratégias<br />
<strong>do</strong>s próprios agricultores e agricultoras na gestão de seus sistemas<br />
produtivos. Isso, sem dúvida, facilitou muito o diálogo com eles.”<br />
O próprio conceito de agricultor-experimenta<strong>do</strong>r foi mais bem qualifica<strong>do</strong><br />
a partir dessa evolução no enfoque, sen<strong>do</strong> redefini<strong>do</strong> como to<strong>do</strong> e qualquer<br />
indivíduo que inova em suas práticas de manejo e que comunica os<br />
resulta<strong>do</strong>s de suas inovações aos seus pares. Nessa lógica, experimentação<br />
e comunicação passam a ser compreendidas como funções indissociáveis<br />
na gestão <strong>do</strong> <strong>conhecimento</strong> <strong>agroecológico</strong> que se processa nas redes de<br />
agricultores-experimenta<strong>do</strong>res.<br />
Com essa (re)definição, o papel <strong>do</strong> agricultor-experimenta<strong>do</strong>r deixou<br />
de ser percebi<strong>do</strong> como uma posição social outorgada pela assessoria e passou<br />
a ser assumi<strong>do</strong> como uma nova identidade social, auto-atribuída entre<br />
aqueles que se percebem integra<strong>do</strong>s a um processo coletivo de inovação<br />
agroecológica. Foi exatamente esse senti<strong>do</strong> de pertencimento que, aos poucos,<br />
conferiu a esse processo os contornos de uma rede informal de agricultores-experimenta<strong>do</strong>res<br />
na região.<br />
Um aspecto de realce nessa nova compreensão estratégica, é que o<br />
enfoque <strong>do</strong> trabalho deixou de se orientar simplesmente para dinamizar<br />
novas redes de inovação e passou também a se ocupar da identificação e<br />
<strong>do</strong> fortalecimento de redes socio-técnicas que estavam inscritas nas normas<br />
de convivência social pré-existentes. Esse aspecto ficou particularmente<br />
evidente após estu<strong>do</strong> sobre o manejo da inovação em algumas comunidades<br />
com as quais trabalhávamos no município de Solânea. O estu<strong>do</strong> identificou<br />
que parte significativa das inovações introduzidas nas comunidades<br />
nas últimas décadas não é originária <strong>do</strong>s serviços de extensão rural oficiais<br />
e não oficiais e <strong>do</strong>s comerciantes mas sim das redes socio-técnicas que<br />
relacionavam as comunidades enfocadas com outras, inclusive de outros<br />
municípios. Esse é o caso, por exemplo, das práticas de tração animal e <strong>do</strong><br />
preparo <strong>do</strong> solo no sistema xadrez oriundas de agricultores <strong>do</strong> Cariri e<br />
trazidas para o agreste por vaqueiros e trabalha<strong>do</strong>res diaristas itinerantes<br />
que vendiam seu trabalho a diferentes fazendeiros. 11<br />
Cabe aqui destacar também que essa evolução foi responsável pela<br />
construção <strong>do</strong> próprio conceito de Agroecologia nas redes de inovação locais.<br />
Estan<strong>do</strong> intimamente relaciona<strong>do</strong> à noção de agricultor-experimenta<strong>do</strong>r,<br />
o conceito de Agroecologia associa-se à idéia de alternativa ao modelo <strong>do</strong>s<br />
pacotes, que, na percepção <strong>do</strong>s agricultores, foi trazi<strong>do</strong> pela assistência<br />
técnica oficial. Segun<strong>do</strong> membros <strong>do</strong> Pólo, “o agricultor sempre esteve perto<br />
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<strong>Construção</strong> <strong>do</strong> Conhecimento Agroecológico