SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong><br />
fazer um trabalho de conscientização sobre a questão indígena, na escola e comunidade, na<br />
expectativa de diminuir o preconceito que parece estar impregnado no sentimento regional.<br />
Vale considerar ainda, que estes estudantes sendo submetidos a um ensino formal,<br />
num ambiente totalmente alienado da sua realidade, tendem a desenvolver um forte<br />
sentimento de reação contra a população regional ou de excessiva aproximação cultural da<br />
mesma, aumentando o clima de conflito ou desfigurando a sua identidade etnocultural.<br />
Através do GTME, um grupo de crianças e adolescentes foi aceito num colégio<br />
metodista na cidade de Colatina (ES), em regime de semi-internato, o que Faria (1992.28)<br />
classifica como “dramática situação”:<br />
(...) crescentemente as crianças Krenak estudam em Colatina, num colégio<br />
protestante, em regime de semi-internato, garantindo a sobrevivência física, mas<br />
inviabilizando a reprodução social do grupo constituindo-se num verdadeiro crime<br />
de etnocídio o descaso das autoridades para com esta dramática situação.<br />
Faria (1992.21) comenta ainda que no início dos anos noventa, quando os rituais<br />
voltaram a ser praticados com mais freqüência, alguns jovens que estudavam neste colégio<br />
se recusaram a participar dos rituais. Obviamente, pode-se perceber o forte preconceito da<br />
autora para com evangélicos, mas é verdade que esta não é uma situação ideal para os<br />
jovens Krenak. A falta de escola é um dos principais problemas atuais deste grupo.<br />
4.1.7.3. RELACIONAMENTO COM A SOCIEDADE REGIONAL<br />
O histórico clima de tensão entre os Krenak e a população regional, ainda é latente<br />
nos dias atuais e a pesquisadora Mattos (1996.177) dedica todo um tópico do seu relatório<br />
para tratar do termo pejorativo bugre, usado pela população regional para se referir a eles.<br />
Semelhante ao termo caboclo, usado para designar os índios amazonenses em contato com<br />
a população urbana, bugre se diferencia numa questão básica: enquanto caboclo nega ao<br />
índio sua identidade, o aproximando da civilização externa, visando assim agregá-lo,<br />
bugre nega a dignidade humana do índio, classificando-o como uma categoria inferior à<br />
civilização externa, indigno de convívio, visando assim segregá-lo 69 .<br />
Enquanto parte da população regional rejeita os bugres por considerá-los<br />
preguiçosos, vagabundos, uma sub-raça, outros os evitam por considerá-los perigosos,<br />
violentos, delinqüentes. A existência da Colônia Penal <strong>Indígena</strong> na reserva Krenak, sendo<br />
69 Neste estudo, Mattos (1996.177-206) faz uma comparação e classificação dos termos índio – aquele<br />
indivíduo distante, habitante da floresta, que anda nu, caçando e pescando, mais próximo à animalidade do<br />
que da esfera humana; puri – índio que se aliou aos “brancos” na tarefa civilizatória dos demais índios, bom<br />
selvagem; caboclo – índio que se misturou com a civilização urbana, digno de pena e, mesmo num nível<br />
inferior, é aceitável no convívio regional, principalmente como mão-de-obra barata; bugre – ser desprezível,<br />
selvagem, feroz, que dada à sua sub-raça e alto grau de periculosdade é indigno de convívio.<br />
88