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SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS

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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong><br />

não têm memória dos seus nomes. Duas versões mitológicas 29 explicam o surgimento de<br />

Yayá, mas ambas se referem a um encantamento de certa índia chamada Yndaiá que se<br />

transformou numa onça em defesa da sua família e não conseguindo reverter e<br />

encantamento permanece até hoje como onça encantada (Paraíso, 1987.41).<br />

Tal entidade é tão central na cosmologia 30 Xacriabá que a história do povo é<br />

ordenada em torno da sua presença, ausência e retorno, com a respectiva ausência,<br />

presença e expulsão dos não-índios. Antes da intrusão dos posseiros, Yayá vivia no<br />

território convivendo com o seu povo em harmonia, mas com a chegada dos invasores, ela<br />

teria se refugiado no Rio de Janeiro vindo esporadicamente visitar o seu povo, anunciando<br />

sua presença através de fortes assobios. Ventanias, ataques a animais dos intrusos, ruídos<br />

estranhos e batidas nas portas das residências eram atribuídos ao descontentamento de<br />

Yayá. Até hoje ela continua se manifestando através de “rastros, marcas deixadas no meio<br />

do mato, galhos quebrados, etc, ou ainda, através de seu característico assobio” (Schettino,<br />

1999.138). Pode se mostrar como onça ou como mulher, de acordo com sua livre decisão,<br />

por isto, Marcato (1978.411) se referiu a ela como “um ser mítico, imortal, mutável”.<br />

Nenhuma decisão pode ser tomada sem que ela seja ouvida, que inclusive pode fazer<br />

previsões. Os líderes não viajam sem antes ouvi-la sobre sua segurança e possibilidade de<br />

sucesso, e durante a viagem os familiares podem acompanhar sua trajetória conversando<br />

com ela. Desta forma, apesar dos Xacriabá terem consciência do Deus dos cristãos, na<br />

prática, se relacionam com Yayá. Sobre isto, Paraíso (1987.44) comenta com muita<br />

propriedade e razão, excetuando a afirmativa de serem eles “profundamente cristãos”:<br />

A ação de ataque aos fazendeiros é tão dificultosa que é necessária a interferência<br />

de forças superiores e divinas que garantam a proteção e a impunidade dos índios.<br />

É interessante que, apesar dos Xacriabá serem profundamente cristãos, não é no<br />

Deus ocidental que eles vão procurar essa força, mas no espírito não denominado, o<br />

que indica, claramente, uma tentativa de resgate dos deuses ancestrais.<br />

2.1.3.2.2. SÃO JOÃO DOS ÍNDIOS<br />

Segundo Filho (2002.1), em julho de 1695 religiosos liderados pelo padre Miguel<br />

de Carvalho fundaram o povoado e criaram a Missão de São João com a finalidade de<br />

catequizar a nação indígena Xacriabá, promovendo assistência social e a conversão dos<br />

índios ao credo católico. Ao construir a igreja, os padres contrataram os serviços de um<br />

artesão indígena que, sob a orientação dos religiosos, esculpiu a imagem de São João. Em<br />

29 Ver anexo 01: 1.1. Yayá, A Onça Cabocla.<br />

30 Foi lançado um livro de histórias Xacriabá que em muito pode auxiliar na compreensão da cosmologia<br />

deste povo, pois são contadas pelos próprios indígenas: “Índios Xacriabá: O Tempo Passa e a História Fica”,<br />

dos irmãos José e Domingos Nunes de Oliveira (ver Referências Bibliográficas).<br />

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