SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong><br />
liderou setecentos indígenas numa revolta, na qual, os padres Manuel Pequeno e Valentim,<br />
foram flechados, sobrevivendo por pouco.<br />
Com os bandeirantes, os indígenas mineiros foram vítimas de um terrível<br />
genocídio, através da guerra aberta, armas ou doenças intencionalmente provocadas,<br />
levando tribos inteiras à extinção. Com os militares e políticos da “boa vizinhança”, bem<br />
como com os religiosos, eles foram vítimas de um terrível etnocídio, destruindo também<br />
intencionalmente suas culturas e línguas.<br />
Na tentativa de fazer aqui uma abordagem não apenas factual, mas também<br />
ideológica da história indígena de <strong>Minas</strong>, é preciso dizer que na sua maioria, estes padres<br />
foram homens que se gastaram e se doaram, a uma causa que criam ardentemente se tratar<br />
da obra de Deus. Entretanto, foram também manipulados pelo Estado e poderosos, na<br />
ganância de adquirirem uma terra que não lhes pertencia.<br />
4.4.1. DOMINGOS RAMOS PACÓ<br />
Na história dos indígenas de <strong>Minas</strong>, e principalmente do Vale do Mucuri,<br />
Domingos Ramos Pacó é digno de menção especial, pois muitas informações que<br />
chegaram até nós vêm do documento que ele mesmo redigiu em 1918. Como o mesmo<br />
relata (Pacó, s.d.201,203), Pacó nasceu no aldeamento de Itambacuri em 1869, filho da<br />
índia Umbelina, com o “língua” Félix Ramos da Cruz, neto materno de Pohóc, cacique das<br />
tribos Mucuriñ e Nhãnhãn. Educado pelos padres capuchinhos, se tornou sacristão e aos<br />
quatorze anos de idade professor “das primeiras letras”, cargo este que exerceu por dezoito<br />
anos. Trabalhou também como secretário econômico no aldeamento.<br />
No fim do século XIX, desentendendo-se com os padres, deixou o aldeamento e<br />
passou a viver peregrinando na mata por alguns anos em busca de “sinais de Nossa<br />
Senhora”, que indicavam muita riqueza em pedras preciosas. Não achou nenhuma fortuna<br />
e ainda perdeu um dos olhos. Retornou às cidades se tornando professor em Igreja Nova,<br />
atual Campanário. Encorajado pelo historiador Reinaldo Porto, escreveu sua história em<br />
1918 e por volta de 1930 morreu nesta última cidade. Seu texto é um dos mais importantes<br />
para a história indígena de <strong>Minas</strong> Gerais, pois vem das mãos de um indígena do século<br />
XIX, sendo o testemunho mais gritante do massacre cultural feito aos indígenas do Vale do<br />
Mucuri, inclusive à sua própria tribo, que desapareceu sem deixar nenhum sobrevivente.<br />
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