SEGUNDA PARTE Minas Indígena - Instituto ANTROPOS
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<strong>Minas</strong> <strong>Indígena</strong> 150<br />
(...) com a ferocidade do sangue botocudo nas veias, os Aranãs expulsaram as tribos<br />
mais mansas do Urupuca e Surubim e aí se estabeleceram. Mas não sobreviveram à<br />
luta com as tribos mais fortes na disputa por terras e alimentos. Além disso, o<br />
confronto com os colonos brancos e as doenças extinguiram completamente a tribo<br />
Aranãs (Oliveira.Internet).<br />
Mas vale citar também as palavras de Mattos (2000b.16) sobre a origem os mesmos<br />
e o contato com os colonizadores:<br />
O povo Aranã também tem sua origem na história dos Botocudos. Distinguia-se, no<br />
entanto, politicamente, de outros grupos Botocudos, conservando inclusive uma<br />
pequena variação dialetal, significativa da distância que mantinham<br />
estrategicamente como forma de reafirmarem sua diferença.<br />
Os Aranã foram aldeados pelos missionários capuchinhos em 1873, no Aldeamento<br />
Central Nossa Senhora da Conceição do Rio Doce, onde epidemias dizimaram a<br />
população. Alguns sobreviventes migraram para o Aldeamento de Itambacuri, de<br />
onde saíram os ancestrais dos Aranã de hoje para o trabalho em fazendas da região<br />
do Vale do Jequitinhonha.<br />
Soares 121 confirma estas informações e acrescenta que na grande revolta dos<br />
indígenas do aldeamento de Itambacuri 122 , quando os Pojixá flecharam alguns padres, os<br />
Aranã estavam envolvidos na revolta e como os demais sofreram a represália. O exército<br />
foi convocado e “fez uma limpeza étnica de Itambacuri até Campanário, matando todos os<br />
índios que encontravam na mata”. Era também comum naquela época o tráfico de crianças<br />
indígenas, sendo vendidas no litoral. Criaram então um asilo para meninas indígenas e não-<br />
indígenas órfãs, enquanto os meninos eram dados aos fazendeiros e colonos para serem<br />
criados como escravos. Uma família que vivia na região de Virgem da Lapa, trouxe um<br />
menino indígena de Itambacuri, ao qual deram o nome de Manoel. Este cresceu nesta<br />
região, se casou com uma indígena que possivelmente teria sido trazida também do<br />
aldeamento de Itambacuri (Oliveira.Internet) e com ela teve três filhos, fazendo algo<br />
totalmente inusitado na história indígena do Estado, e talvez do país: como prova da<br />
consciência de sua indianidade, afirmação étnica e protesto ao contexto de opressão que<br />
vivia “inseriu a denominação ‘Índio’ em seu nome, transformando essa palavra substantiva<br />
no patronímico de sua família” (Caldeira, 2000a.6) e passando a se identificar e ser<br />
identificado como Manoel Índio, ou “Mané Índio”.<br />
121 Idem.<br />
122 Próximo da cidade de Itambacuri, há um povoado chamado “Cachoeira dos Aranã”, em referência a este<br />
povo.